Por Carolina Campos
Muito se tem falado sobre autismo ultimamente. Mas você sabe o que é? De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais V (DSM-V), o autismo passou a integrar uma gama de outros cenários clínicos semelhantes, sendo agora reconhecido, portanto, como peça de uma denominação mais ampla: Transtorno do Espectro Autista (TEA). O TEA também inclui a Síndrome de Asperger.
Trata-se de uma síndrome comportamental que engloba atrasos e comprometimento nas áreas de interação social e linguagem. A incidência atual é de cerca de 1-5 casos a cada 10.000 crianças, podendo variar de acordo com a região estudada. É fato que houve aumento dos números supracitados. Fator esse como resultado de mais diagnósticos sendo feitos ou realmente a prevalência tem se elevado como fator isolado? É mais comum no sexo masculino. Cerca de 70% dos portadores do transtorno também possuem deficit intelectual (ou retardo mental) e também estão mais suscetíveis a convulsões. A idade usual para o diagnóstico é de 3 anos, porém, a partir de 18 meses o mesmo já pode ser bem estabelecido. Mas como suspeitar que meu filho possa ter autismo ou alguma criança que eu conheço? De acordo com o DSM-V, existem 2 tópicos centrais:
- Défices de comunicação social e interação social e;
- Comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos.
Mas o que isso quer dizer na prática?
- Pouco contato visual com os pais;
- Alguns são conhecidos como “bebês modelo”, pois raramente choram à noite à procura de acalento dos pais;
- Geralmente têm dificuldade em estabelecer relacionamento com seus pares (ou seja, os que estão no mesmo nível de desenvolvimento como coleguinhas da escola);
- Normalmente não compartilham emoções, interesses ou realizações com outras pessoas;
- Na maioria das vezes apresentam dificuldades em interpretar emoções, faltando-lhes, portanto, empatia;
- Podem ter atraso e deficit acentuado na linguagem e os mesmos não são compensados com linguagem não verbal;
- Mesmo quando a linguagem é preservada de certa forma, apresentam dificuldade em iniciar e manter um diálogo;
- Podem apresentar ecolalia imediata ou tardia (repetir palavras ditas, como um papagaio);
- Algumas crianças adquirem habilidades espantosas, como uma super memória ou precocidade em aprender a ler ou interesses restritos sobre determinados assuntos, até esgotar todas as informações sobre o mesmo, tendo um padrão cíclico (ora estão fissurados por carros, ora por celulares);
- Normalmente não conseguem participar de brincadeiras que exijam imaginação, jogos imitativos ou que requeiram habilidades abstratas;
- Encantam-se por partes de um todo (preferem as rodinhas de um carro do que propriamente brincar de carrinho);
- Podem apresentar estereotipias, que podem se manifestar com movimentos repetitivos, como andar na ponta dos pés, balançar as extremidades das mãos; alguns são hipersensíveis a estímulos sensoriais (ficam claramente desconfortáveis e irritados com algumas texturas, como areia, por exemplo, ou intolerância a ruídos e também a toques físicos, como beijos ou abraços);
- Podem ter acessos de hiperatividade, de raiva e de agressividade, principalmente quando algo referente à sua rotina não é respeitada, como mudar o horário das refeições ou trocar o sofá de lugar;
- Também é muito comum a queixa de que não ouvem quando são chamados, mas não por problemas auditivos (mas exames devem ser feitos a fim de excluir patologias), e sim por falta de qualidade no que diz respeito à interação social.
É importante ressaltar que nem todos os sintomas devem estar presentes em todos os portadores do transtorno, e que aqui, o que manda é a qualidade da avaliação do desenvolvimento, e não apenas preenchimento de questões avaliadas como presentes ou ausentes. Também é preciso salientar que o TEA possui diferentes níveis de intensidade, podendo se apresentar como casos com sintomatologia mais exuberante, intermediária ou leve. Por isso, a importância de um contexto familiar e escolar sólido e bem estruturado e um acompanhamento rigoroso com um pediatra de confiança, pois a partir de situações relatadas pelos pais ou professores ao profissional, o mesmo pode levantar a suspeita do transtorno e encaminhar o paciente até um especialista, o psiquiatra infantil, que irá então estabelecer o diagnóstico concreto e guiará o tratamento. É uma condição que não tem cura, porém, existem mecanismos que podem proporcionar uma melhora da qualidade de vida para o paciente e os que convivem com ele, por isso a ênfase no diagnóstico cada vez mais precoce.
A palavra chave é estímulo. Uma equipe multidisciplinar é imprescindível: fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, médicos. Medicamentos só são utilizados para auxiliar em comportamentos agressivos, hiperativos, compulsivos, obsessivos, irritativos e de auto-mutilação, mas não são capazes de tratar o autismo em si. Existe ainda muito preconceito a respeito do autismo, preconceito esse alimentado pela falta de informação. Nenhum conselho ou texto informativo substitui uma consulta médica. Portanto, caso surjam outras dúvidas, procure um Pediatra ou um Psiquiatra Infantil.
Carolina Campos Ribeiro é Médica, Residente em Pediatria.