Por Marcos Silveira
Podemos considerar a rinite alérgica como uma síndrome caracterizada clinicamente por: prurido nasal intenso, espirros em salva, obstrução nasal e coriza hialina, sintomas estes consequentes ao intenso processo inflamatório da mucosa nasal. Acredita-se que cerca de 10% da população mundial sofra de rinite alérgica, chegando a atingir mais de 15% em crianças e adolescentes. Sem dúvida nenhuma, é consenso que existe grande variabilidade regional no número de indivíduos acometidos por essa alergia. Trata-se de uma doença subestimada por todos, médicos e pacientes, com total desconhecimento de suas consequências em adultos e crianças. Estima-se que cerca de 60% das faltas ao trabalho estejam diretamente relacionadas a doenças respiratórias altas, sendo que, uma boa fatia destas são devido à rinite alérgica. No Brasil, ainda faltam estudos sobre a qualidade de vida de um indivíduo com rinite alérgica, mas podemos supor que os resultados serão alarmantes. Providências no sentido preventivo, por parte de empresas e órgãos de saúde, são necessárias para uma redução significativa dos custos e dissabores causados por esta doença.
A rinite alérgica, assim como outras alergias, apresenta um forte caráter genético, com incidência maior em pessoas cujos pais são alérgicos. Não tem preferência por sexo ou raça; pode iniciar-se em qualquer idade, sendo mais frequente na criança maior e no adolescente. As manifestações nasais podem ser acompanhadas por outros sintomas como: prurido da orofaringe, prurido ocular e do conduto auditivo. Várias doenças podem acompanhar ou serem consequentes à rinite alérgica. O diagnóstico é predominantemente clínico, mas testes in vitro e in vivo podem contribuir significativamente para a determinação do fator etiológico. Assim como na asma, os sintomas podem ser desencadeados por fatores específicos (alérgenos) e inespecíficos (irritantes primários). A importância da poluição ambiental sobre o estabelecimento do processo inflamatório da mucosa respiratória é fato consumado.
Podemos classificar as rinites alérgicas em: sazonais e perenes. Rinite sazonal, como o próprio nome diz, é aquela que apresenta um padrão previsto a cada ano correspondente à exposição a um determinado alérgeno inalado. O melhor exemplo é a polinose, na qual os sintomas são desencadeados pela exposição ao pólen na primavera. Trata-se de uma alergia pouco frequente na maioria dos estados brasileiros, mas com repercussões importantes no sul do país e em algumas regiões mais montanhosas e frias do sudeste. Os fungos do ar também podem ser responsáveis pela rinite alérgica sazonal. Em trabalhos recentes, pesquisadores brasileiros demonstraram a importância da Hemiléia vastatrix (ferrugem do café) no desencadeamento de alergias respiratórias. No Brasil, o pólen das gramíneas é o principal sensibilizante do grupo, seguido em ordem decrescente de importância, pelo Platanus, Ligustrum, Acacia, Araucaria e Eucalyptus.
A rinite alérgica perene é caracterizada pela presença de sintomatologia durante grande parte do ano. Está relacionada, principalmente, com os alérgenos ambientais. O ácaro da poeira domiciliar é o principal alérgeno no Brasil, sendo os mais importantes o Dermatophagoides pteronyssimus e a Blomia tropicalis. Outros alérgenos importantes são os animais domésticos (cão e gato), restos de insetos com a barata e os fungos.
Mesmo com todo o avanço da imunologia, ainda não compreendemos totalmente a imunofisiopatologia do processo inflamatório da rinite alérgica. Hoje, sabemos da importância das subpopulações de linfócitos TH2 e suas linfocinas, dos mastócitos e seus mediadores químicos, dos eosinófilos e seus produtos e, mais recentemente, da participação das moléculas de adesão na inflamação. Entretanto, estamos ainda longe de conhecer esta complexa interação química e imunológica do fenômeno alérgico.
Não é incomum os pacientes alérgicos referirem piora clínica associada a problemas emocionais ou, ao contrário, as exacerbações dos sintomas acarretarem ansiedade, irritação e até depressão, estabelecendo-se assim um círculo vicioso de difícil controle.
Todos reconhecemos as dificuldades e limitações encontradas em nossa rotina diária para o controle terapêutico da rinite alérgica em crianças e em mulheres grávidas, sempre na busca da utilização de medicamentos com maior ação e menos efeitos colaterais. Também sabemos das grandes controvérsias geradas com a utilização inapropriada da imunoterapia alérgeno-específica por profissionais não aptos a esta técnica de tratamento.
Com o melhor conhecimento dos mecanismos imunofisiopatológicos da rinite alérgica, novas perspectivas no tratamento com certeza surgirão. Drogas antagonistas dos metabólitos do ácido aracdônico, anticorpos monoclonais antiinterleucinas, antagonistas da bradicinina, antiinflamatórios hormonais mais potentes e com menor efeitos colaterais, novos estabilizadores de mastócitos e extratos alergênicos mais potentes com poucos riscos. No campo da higiene ambiental, novos produtos no controle da proliferação de ácaros e fungos serão desenvolvidos, assim como aparelhos com filtros especiais para o controle da poluição ambiental. Enfim, certamente teremos inúmeras armas para o combate à rinite alérgica.
Marcos Cunha da Silveira é medico formado pela Emescam (Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitoria), com residência médica em Otorrinolaringologia e Cirúrgia de Cabeça e Pescoço no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo -IAMSPE; Mestrado em Otorrinolaringologia no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo – IAMSPE; Pós graduação em Medicina do Sono pela Escola Paulista de Medicina.