Por Daniel Borges
Desde os tempos primórdios é praticada a Lei da Oferta e da Demanda no mundo dos negócios. Em outras palavras, se determinado produto, serviço ou qualquer outra coisa é ofertado em abundância, o valor dos mesmos tende a cair. De igual forma acontece com o inverso. Se há uma procura por alguma coisa maior do que a quantidade ofertada, o preço tende a se elevar. E isso acontece o tempo todo.
No mercado de trabalho não é diferente. O Brasil enfrenta hoje uma crise histórica e muito longa. Com isso, as empresas, que já enfrentam um cenário nada incentivador com elevados impostos, excesso de burocracia, entre tantas outras barreiras de governo e mercado, lutam para sobreviver a essa crise, reduzindo os custos para pelo menos se manterem abertas. Com o mercado vivendo uma crise tão profunda, é quase impossível reduzir os custos com fornecedores de produtos e de insumos. Assim, a área que mais tem sofrido cortes é a de pessoal. Um quadro de funcionários mais enxuto, precisando ser mais eficiente para suprir a ausência dos que foram demitidos sem novas contratações, ou substituição de profissionais com altos salários por outros que aceitam receber menos tem sido prática recorrente.
Na outra ponta, temos uma massa de profissionais que buscam uma recolocação no mercado de trabalho. Somando e engrossando essa massa, temos os novos profissionais que buscam inserção no mercado de trabalho.
Esse cenário descreve perfeitamente a Lei da Oferta e da Demanda. As empresas estão contratando cada vez menos, fora as que estão fechando ou demitindo. E há um crescente número de profissionais buscando uma oportunidade de trabalho. Dessa forma, as empresas tendem a oferecer salários cada vez menores e exigir cada vez mais tarefas, eficiência e resultados dos seus colaboradores.
Não seria certo dizer que esse quadro está errado. Contudo, é necessária a reflexão de que os cenários mudam de tempos em tempos. É premissa básica de que as empresas existem para dar lucro. As empresas não são instituições filantrópicas que devem apadrinhar seus colaboradores. E a forma mais simples de ser eficiente e conseguir resultados lucrativos é reduzir custos. No entanto, essa premissa torna-se bem mais complexa quando trata-se de pessoas. É importante que os gestores tenham em mente que o capital intelectual da empresa sofre uma defasagem muito grande com a alta rotatividade. Até por que, sendo esperançoso, quando a crise passar, os profissionais que hoje estão recebendo bem menos do que sua qualificação merece “sairão à caça” de salário maiores e o cenário se inverterá, tendo maior oferta de trabalho do que demanda por eles. Portanto, é importante pensar estrategicamente no futuro.
Da mesma forma que os profissionais precisam entender que a crise afeta as condições da empresa, o que as impossibilita de pagarem maiores salários. As vezes uma redução salarial temporária (claro que dentro dos parâmetros legais) é mais válida do a demissão em si. Vale ressaltar também que, acabando a crise, as empresas devem começar a valorizar seus profissionais. Quando você já conhece a cultura, os processos e procedimentos da empresa, fica muito mais fácil ser reconhecido.
No entanto, o que impede uma negociação que poderíamos chamar de GANHA X GANHA é o famoso “jeitinho brasileiro”. Culturalmente, o brasileiro presta reverencia a malandragem. Espera-se que todos estejam buscando levar vantagem em cima do outro (e, infelizmente, de fato na maioria das vezes estão mesmo), fica-se na defensiva e buscasse revidar com a mesma moeda.
De forma prática, os trabalhadores pensam que estão sendo sempre explorados, que a empresa só quer lhe sugar pagando pouco e obtém, com isso, altos lucros (o que muitas vezes é verdade). Por outro lado, a grande maioria das empresas ainda tem a cultura de achar que os colaboradores só produzem bem embaixo de muita pressão, que buscam oportunidade para se livrar do trabalho, que são ociosos e preguiçosos e que só trabalham pelo salário que recebem (o que alguma vezes também é verdade).
Pode parecer utópico, mas a forma viável e possível de enfrentar crises como a atual seria uma parceria sincera e justa entre empresas e profissionais, onde cada lado cede um pouco, entendendo que crises passam, mesmo que demorem. Até por que uma parte não vive sem a outra. As empresas precisam de seus colaboradores para que consigam alcançar seus objetivos e obter lucro. Nem todos profissionais são empreendedores. Assim, precisam das empresas para se realizarem profissionalmente, além de obterem seu sustento. Então, por que não firmar uma parceria justa, produtiva e menos desgastante para ambas as partes?
Daniel Pereira Borges é graduado em Administração, MBA Executivo em Recursos Humanos