Por Wesley Louzada
Escrevo este artigo – propositalmente – antes da votação pelo Congresso Nacional do afastamento definitivo da Presidente da República do cargo para o qual foi eleita. Não externarei aqui minha posição quanto ao tema, já que o verdadeiro Fla x Flu político que se estabeleceu no país com o início do processo de impeachment não seria construtivo.
Abstraindo os juízos políticos e ideológicos sobre o processo, há um fato que me parece inquestionável: votamos mal.
Senão, vejamos: após a redemocratização do país, votamos sete vezes para Presidente, elegendo quatro pessoas para o cargo: Collor, Fernando Henrique (duas vezes), Lula (duas vezes) e Dilma (duas vezes). Dos quatro eleitos, dois se sentaram no banco dos réus para serem julgados pelo Congresso Nacional por cometimento atos incompatíveis com o exercício do mandato (Collor e Dilma). Fora isso, os outros dois tiveram episódios suspeitos (FH com as privatizações) ou comprovados (Lula com o “mensalão”), que poderiam leva-los ao mesmo julgamento pelo Legislativo.
Repito, sem entrar no mérito de cada episódio, pois o que se busca aqui é uma reflexão isenta, o fato é que desde a volta da democracia não temos sido eficientes na escolha dos nossos representantes, o que se reflete, também, nos níveis estadual e municipal.
Qual a alternativa? Se o retorno ao autoritarismo, que retira do cidadão o direito de escolha, não pode estar sequer em debate, por mandamento constitucional, a única alternativa é aprendermos a votar. E só se aprende a votar votando.
Dentro de alguns dias, teremos eleições municipais, nas quais escolheremos Prefeito e Vereadores. O descrédito da classe política tem levado muitos a uma atitude de abandono da política, dizendo que não votarão em nenhum candidato, já que não adianta mesmo, tudo vai continuar como está. Ledo engano. A democracia nos dá uma oportunidade de escolha e, por outro lado, uma responsabilidade de escolher os melhores, vez que não podemos reclamar se alguém corrupto ou despreparado for eleito, pois terá sido escolhido pela maioria.
Há que se praticar a democracia. Investir tempo em investigar quem são os candidatos, como foi seu procedimento até aqui, se tem preparo intelectual para o exercício do cargo, enfim, escolher dentre as alternativas, aquela que seja a melhor ou, em certos casos, a menos pior. Sim, pois com ou sem o seu voto haverá Prefeito e Vereadores. Quando você não escolhe o melhor, ajuda os piores.
Isso sem falar em práticas de troca de votos por favores presentes ou futuros. Há no país uma crítica severa à corrupção, mas, desculpem-me a franqueza, o eleitor também é corrupto, pois aceita trocar o voto por uma obra na sua rua, uma cesta básica, um cartão de bolsa família, uma promessa de emprego, etc.. Corrupção é um crime que exige dois participantes. E o problema é que “eles”, os políticos, saem do meio de “nós”, que somos sempre corretíssimos aos nossos próprios olhos.
Nossas escolhas de agora se refletirão nas nossas condições de vida dos próximos anos. Que saibamos, sob a orientação de Deus, escolher aqueles que mais atendam aos interesses coletivos. Depois, não adianta reclamar “deles”.
NOTA DE RODAPÉ
Tenho refletido ultimamente porque o aumento exponencial do número de evangélicos no país não tem se refletido em uma melhora geral no comportamento das pessoas, uma redução dos índices de violência, redução do número de divórcios, um aumento da cortesia no tratamento do outro, etc.
Ao ver a cena de Neymar Jr. com uma faixa na testa com o nome de Jesus xingando repetidas vezes um torcedor após a vitória do Brasil sobre a Alemanha na final das Olimpíadas, obtive resposta a algumas destas perguntas.
Wesley Louzada é Mestre e Doutor em Direito. Advogado.