Por Vera Lúcia
Existe um vazio na vida do jovem, sobretudo aqueles advindos das populações de baixa renda.
Ao terminar com festas e comemorações o Ensino Médio, fazem o vestibular, são aprovados e aí então acordam do sonho. Como bancar os custos da Faculdade?
Fazem a matrícula, começam a estudar e simultaneamente a elaborar seu currículo para correr atrás de um emprego. Grande decepção,batem de porta em porta e sempre tropeçam na tal experiência. Não conseguem emprego por não ter experiência. Não tem experiência porque nunca trabalhou. Programas do governo existem, citamos aqui o Menor Aprendiz, mas o acesso é muito limitado e a seleção é questionada.
Essa reflexão mais que propor uma luz no fim do túnel quer abrir espaço para discussão.
O modelo de escola de hoje tende a preparar o aluno para um mundo que não corresponde ao que vivemos. Precisamos encontrar maneiras alternativas de reverter isso.
O desafio de conseguir o Primeiro Emprego é uma tarefa muito difícil e que exige empenho e foco da pessoa desafiadora. Como conseguir transpor esse obstáculo?
A combinação é interessante é conflitante... Você jovem, tem um mundo inteiro pela frente, a força e o vigor físico da juventude, muitas ideias na cabeça e um currículo frágil na mão. Falta apenas o Primeiro Emprego. Já se sabe que por necessidade ou vontade, não dá mais para ficar na dependência dos pais, avós, tios, irmãos ou quem tiver debaixo do mesmo teto. Ao mesmo tempo com 16, 18 anos já entendeu que é preciso dar a parcela de contribuição para as contas do mês.
Quando o jovem chega ao mercado de trabalho exige-se experiência anterior. Mas é evidente que há um choque lógico entre a falta de experiência que vai em busca do Primeiro Emprego e as exigências para o preenchimento dessas vagas. O jeito é se preparar de todos os modos possíveis para lidar com esse paradoxo.
Há ainda o medo e a insegurança. Todo dia se houve que o mercado de trabalho está mais competitivo. É preciso se preparar para o primeiro emprego de fato, ao invés de volteios num currículo órfão de experiências que garantam esse espaço. A sinceridade e a vontade de aprender. Buscar cursos, muitos deles gratuitos que dão a formação necessária para o preenchimento de linhas substanciosas ao currículo estimulada e planejada pela própria Escola como fruto do resultado do trabalho de OV e OP e assim em parceria ir encaminhando o jovem a ter formação e experiências que darão luz a caminhada e passar por experiências valiosas e ao mesmo tempo mostrando ao mercado o caminho percorrido, auxiliar de escritório, informática, até chegar ali e se apresentar para o primeiro emprego... Mas não se ensina desejar ser.
Não é fácil explicar, principalmente aos mais jovens que é em casa e na escola que se aprende sobre as coisas da vida, inclusive profissional. Os conhecimentos, os valores, as aptidões, os desejos, as vontades, quando nada disso vem de casa ou da escola da melhor forma possível, o que fazer?
Continuar tentando buscar todas as ajudas e ter muita força de vontade.
Fui professora Universitária, Coordenadora Pedagógica, Coordenadora a Geral, Diretora Pedagógica somando todos os sins e nãos recebidos, hoje aposentada e tendo oportunidade de um olhar mais apurado do que fazer pelos nossos jovens diante da busca de espaço para o primeiro emprego é que percebo o quanto incipiente são os projetos implementados nessa área para contemplar essa iniciação.
Cito aqui o menor aprendiz que nem em sonho vem com a força que deveria vir. Chega viciado por manipulações e as informações e divulgações são insipientes para toda demanda que está aí. Penso que as Escolas não entram nesse processo com uma parceria consistente. Fazendo um trabalho que leve o aluno a entender que a busca do mercado precisa de conexões fortes. É desumano colocar nossos jovens com diploma de segundo grau sem ter se preparado para começar esse momento tão importante, entrar no mercado.
É doloroso perceber que está capenga esse processo e não vejo a família como responsável junto com a escola para encaminhar esse propósito. Mas a escola envolvendo e preparando a família para entrar no processo.
As escolas por onde atuei sempre se propuseram a trabalhar OV (Orientação Vocacional) e OP (Orientação Profissional) com palestras, entrevistas e testes que não conseguem mostrar resultados efetivos na vida prática dos alunos.
É necessário um projeto robusto que pegue a questão de todos os lados. Uma equipe unida com a família bordando o Curriculum do aluno desde cedo, estimulando informações e garantindo a participação deles em cursos de formação paralelos. Só ensino formal não responde a esse grande desafio: o chamado do mercado, decretou a substituição das profissões pelas ocupações. Portanto, todo processo deve ser leve, dialogado, integrado, dinâmico com alto grau de efetividade e muita vontade de apresentar resultados efetivos e competentes. Tem solução. Falta apoio e condições efetivas ao trabalho da liderança envolvida na preparação completa de nossos alunos. Esse vazamento precisa ser estancado.
Vera Lúcia Pereira Dias é Educadora, Socióloga, Consultora Educacional, atuando no processo de revitalização das Instituições Educacionais, em Processos Estratégicos de Gestão e Políticas Sociais e Educacionais.