Por Roberta Cruz
O Atraso de Linguagem diz respeito a um início tardio no desenvolvimento da linguagem da criança.
A forma como a criança utiliza a linguagem seria considerada normal em uma faixa etária anterior, ou seja, o seu nível de desempenho linguístico estaria aquém daquilo que é esperado pelo meio.
Tendo em vista que por volta de um a dois anos de idade a criança deveria ter começado a adquirir e a usar a linguagem, temos que ficar atentos quando isso não ocorrer, pois algum problema poderá estar interferindo nesse processo.
Segundo Zorzi, existem dois tipos de atraso de linguagem:
1. Embora a criança já tenha atingido ou até mesmo ultrapassado a idade cronológica esperada, não conseguiu adquirir a linguagem. O atraso manifesta-se na forma de ausência de linguagem verbal no comportamento infantil.
2. Uma segunda forma de atraso de linguagem pode ser observada em crianças que, embora já estejam usando palavras para se comunicar, têm uma linguagem que não se desenvolve com a mesma velocidade e complexidade constatadas na evolução das demais crianças.
Sendo assim, o atraso de aquisição de linguagem ocorre quando a criança não apresenta um nível de linguagem adequado em comparação ao esperado.
Causas:
Conforme Fonseca (1994), o desenvolvimento da linguagem depende de dois fatores:
Um orgânico/afetivo com as características individuais de cada criança, e outro social resultante do potencial ambiental edificado pelo grupo a que a criança pertence.
Danos cerebrais devidos a traumatismos ou doença, ocasionando disfunção e déficits neurológicos, estão entre as causas orgânicas. Uma criança que apresente um sinal neurológico provavelmente irá apresentar um déficit linguístico.
Também se enquadram nessa categoria crianças com privação sensorial, como na deficiência auditiva.
A deficiência mental dificulta o reconhecimento dos significados e de suas possíveis inter-relações. Se uma criança demonstra um atraso global no seu desenvolvimento neuropsicomotor, fica claro que a linguagem também estará comprometida.
Várias síndromes também apresentam como característica uma linguagem deficitária.
No âmbito afetivo, problemas emocionais, como em crianças emocionalmente imaturas que não aprendem a falar por temer ou rejeitar as relações comunicativas, ou talvez, pela dificuldade em encontrar as palavras para expressar seus sentimentos.
No autismo, a criança demonstra grande resistência à interação verbal com seu interlocutor.
No que diz respeito aos problemas ambientais, podemos citar a privação de experiências, em que as condições familiares são desfavoráveis ao desenvolvimento da fala, com situações tensas ou agressivas.
O abandono ou, em outro extremo, a superproteção, com excesso de cuidados com a criança, também dificultam a aquisição da linguagem, já que os pais tendem a tentar adivinhar o que ela quer, respondendo prontamente a um simples gesto indicativo.
Principais características do desenvolvimento de linguagem:
0 a 3 meses
- Vocalizações (repetições de vogais e sons guturais) não linguísticas. Essas produções têm pouca influência da língua-mãe.
- Sorriso reflexo.
- Movimentos corporais bruscos ou acorda ao ouvir estímulo sonoro.
- Aquieta-se com a voz da mãe.
- Procura fonte sonora com movimentos oculares.
3 a 6 meses
- As vocalizações começam a adquirir algumas características de linguagem, ou seja, entonação, ritmo e inicia-se a modulação de ressonância.
- A fase de lalação aparece por volta dos 3 a 4 meses e se distingue por sua fonação lúdica. A criança sente prazer em balbuciar (brincar com os órgãos fono-articulatórios).
- Ao ouvir música tende a cessar o choro.
- Começa a voltar à cabeça em direção a um som lateral e próximo.
6 a 9 meses
- Pré-conversação. A criança vocaliza principalmente durante os intervalos em que é deixada livre pelo adulto, e também encurta suas vocalizações para dar lugar às respostas do adulto.
- Localiza diretamente a fonte sonora lateralmente e indiretamente para baixo.
- Responde quando chamada.
- Repete sons para escutá-los.
9 a 12 meses
- Localiza diretamente a fonte sonora para baixo.
- Reage paralisando a atividade quando a mãe fala "não".
- Vocaliza na presença de música.
- Compreende algumas palavras familiares, por ex.: “mamãe, “papai”, “nenꔓ.
- Compreende ordens simples, por ex.: "bate palmas" e dar "tchau".
- Vocalizações mais precisas e melhor controladas quanto à altura tonal e à intensidade. Agrupa sons e sílabas repetidas a vontade.
- Pede, recebe objetos e oferece-os de volta.
- Usa gestos indicativos.
- Surge a primeira palavra, muitas vezes não inteligível.
12 a 18 meses
- Surgem as primeiras palavras funcionais que, em geral, se dá um prolongamento semântico, por ex.: chama "cachorro" a todos os animais.
- Crescimento quantitativo de compreensão e produção de palavras.
- Localiza fonte sonora indiretamente para cima.
- Gosta de música.
- Compreende verbos que representam ações concretas (dá, acabou, quer).
- Identifica objetos familiares através de nomeação.
- Identifica parte do corpo em si mesma.
- Utiliza-se de palavra-frase (usa uma palavra que corresponde a um enunciado completo).
- Repete palavras familiares.
- Tenta contar.
18 a 24 meses
- Surgimento de frases de dois elementos.
- Localiza fonte sonora em todas as direções.
- Presta atenção e compreende estórias.
- Identifica parte do corpo no outro.
- Inicia o uso de frases simples.
- Usa gesto representante.
- Usa o próprio nome.
2 a 3 anos
- Iniciam-se sequências de três elementos, por ex.: "nenê come pão" (fala telegráfica).
- Aponta gravura de objeto familiar descrito por seu uso.
- Identifica objetos familiares pelo nome e uso.
- Aponta cores primárias quando nomeadas (vermelho, azul, amarelo...)
- Compreende o "Onde?" "Como?"
- Pergunta o que?
- Nomeia ações representadas por figuras.
- Refere-se a si mesmo na 3ª pessoa.
- Combina objetos semelhantes.
- Constitui frase gramatical simples (com verbos, preposições, adjetivos e advérbio de lugar).
Tratamento:
O diagnóstico precoce é muito importante para que haja uma intervenção terapêutica sem demora. O fonoaudiólogo irá acompanhar a criança, intervindo de maneira eficaz para ampliar sua linguagem oral e oferecer modelos adequados de interação comunicativa entre a criança e a sua família.
O tratamento Fonoaudiológico é de suma importância, mas para que o trabalho alcance seu objetivo, torna-se fundamental que haja uma parceria entre escola/clínica/família, na qual a criança sinta-se mais segura e com total respaldo para desenvolver-se plenamente.
Fontes:
http://www.fonoterapia.com.br/atrasa-na-linguagem/ Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia – www.sbfa.org.br
Fonoaudiologia na Escola Sacaloski,M.; Alavarsi, E.; Guerra, G., Lovise,2000.
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/esporte/a-linguagem-infantil-fases-do-desenvolvimento/45251
Roberta Cruz Figueiredo é Fonoaudióloga formada pela Universidade Católica de Petrópolis e Especialista em Voz pelo Núcleo de Estudos da Voz, Clinvoz, Niterói- RJ.