Por Roberta Cruz
O autismo é um transtorno de desenvolvimento que compromete as habilidades de comunicação e interação social. Em maio de 2013, foi lançada a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ( DSM- V) , que trouxe algumas mudanças importantes, entre elas novos diagnósticos e alterações de nomes e condições que já existiam .Nesse manual, diversas condições foram fundidas e passaram a receber um único diagnóstico como Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) são elas:
- Transtorno autista;
- Transtorno desintegrativo da infância;
- Transtorno generalizado do desenvolvimento não especificado (PDD-NOS);
- Síndrome de Asperger.
Os transtornos caracterizam-se pela dificuldade na comunicação social e comportamentos repetitivos. Embora todas as pessoas com TEA partilhem essas dificuldades, o estado de cada uma delas vai afetá-las com intensidades diferentes.
Assim, essas diferenças podem existir desde o nascimento e serem óbvias para todos ou podem ser mais sutis e tornarem-se mais visíveis ao longo do desenvolvimento.
O TEA pode ser associado com deficiência intelectual, dificuldades de coordenação motora e de atenção. Às vezes, as pessoas com autismo têm problemas de saúde física, tais como sono e distúrbios gastrointestinais e podem apresentar outras condições como síndrome de déficit de atenção e hiperatividade, dislexia ou dispraxia.
As pessoas com Transtornos do Espectro Autista podem destacar-se em habilidades visuais, música, arte e matemática. Outras características são comuns nesse grupo, como:
- Facilidade para aprender visualmente;
- Muita atenção aos detalhes e à exatidão;
- Capacidade de memória muito acima da média;
- Repetição de informações, rotinas ou processos uma vez aprendidos;
- Grande concentração em uma área de interesse específica durante muito tempo, normalmente optando por estudar ou trabalhar em áreas próximas;
- Paixão pela rotina, o que é favorável na execução de alguns trabalhos;
- São pessoas leais e de confiança.
Portanto, verifica-se que as pessoas com TEA pode ter um espectro autista com sintomas variados e também características bastante particulares.
Os diferentes tipos de TEA e autismo, como o autismo leve, autismo de alto funcionamento, Asperger e outros influenciam os sintomas e a forma como o indivíduo se relaciona, se expressa e se comporta.
Tratamentos para autismo:
-Um profissional essencial para o início da intervenção em casos de TEA (Transtornos do Espectro do Autismo) é o médico (psiquiatra ou neurologista) que é quem faz o diagnóstico e, no decorrer da intervenção, receita medicações para alguns sintomas, como: agitação, déficit de atenção, estereotipias, auto lesões, agressividade, problemas de sono, ansiedade, irritabilidade, apatia, etc. Em alguns momentos e, para alguns casos, a medicação é fundamental para que um determinado sintoma seja controlado e amenizado e, só assim, a estratégia comportamental possa ser efetiva. Cabe ao médico avaliar tais sintomas, decidir qual é a medicação adequada e, então, acompanhar a reação do organismo da criança às medicações usadas por meio de exames periódicos e mudanças nas dosagens à medida que a criança cresce e o quadro mude;
- Analista do Comportamento: Terapia ABA (Applied Behavior Analysis – Análise do Comportamento Aplicada), no desempenho escolar e nas demais terapias. Logo no início da intervenção, o analista do comportamento precisa, junto com a família, selecionar os aplicadores da intervenção ABA, ou seja, profissionais ou estudantes da área da saúde ou educação ou, ainda, para-profissionais (cuidadores ou familiares) que aplicarão os procedimentos orientados pelo Analista do Comportamento na terapia individualizada (procedimentos para aquisição de novas habilidades e controle de comportamentos inadequados) e na escola (procedimentos para maior aproveitamento da criança nas propostas escolares e mediação na interação social). Estes aplicadores são diretamente treinados e orientados pelo analista do comportamento que avalia a criança e planeja a intervenção. Em alguns casos a mesma pessoa faz a aplicação das estratégias comportamentais na terapia individualizada e na escola, em outros casos são dois aplicadores.
- Os pais e cuidadores também são essenciais na intervenção, afinal, são eles que aplicarão os procedimentos de maximização de comportamentos adequados e minimização de comportamentos inadequados no dia-a-dia da criança. Por isso, é fundamental que o analista do comportamento tenha um bom vínculo e uma boa parceria com estas pessoas e esteja sempre orientando-os sobre como lidar com a criança nas atividades cotidianas e nos momentos livres, visando autonomia, comunicação, interação social e novos aprendizados.
- É fundamental na intervenção com autismo o fonoaudiólogo. Tendo em vista que um dos principais déficits do autismo está no desenvolvimento da linguagem, a presença de um fonoaudiólogo na equipe de intervenção é indispensável, esta intervenção é uma das primeiras a ser iniciada logo que a criança começa a demonstrar atraso na fala. É o fonoaudiólogo que avalia e decide por quais fonemas iniciar o treino vocal e orienta a todos na equipe que estratégias utilizar no dia-a-dia para estimular a emissão destes fonemas.
- Outra parceria muito importante na intervenção com autismo é com o terapeuta ocupacional. As crianças diagnosticadas com TEA apresentam uma importante alteração sensorial, ou seja, recebem e decodificam os estímulos sensoriais (táteis, auditivos, visuais, sonoros e olfativos) de forma diferente. Por isso, elas podem reagir de forma exagerada ou diminuída a algumas estimulações sensoriais. É o terapeuta ocupacional que poderá avaliar detalhadamente quais alterações sensoriais a criança possui e, com base nessa avaliação, aplicará procedimentos de Integração Sensorial em suas sessões e, principalmente, orientará familiares, cuidadores e demais membros da equipe sobre como garantir um controle sensorial da criança no dia-a-dia, visando minimizar as estereotipias e, com isso, aumentar a atenção, a concentração e o aprendizado. O terapeuta ocupacional também tem um importante papel no treino das habilidades de coordenação motora fina que podem estar prejudicadas em algumas crianças com TEA. A autonomia nas atividades de vida diária (AVDs) também merece a atenção e intervenção do terapeuta ocupacional que, se necessário, orienta adaptações e tecnologia assistiva para que a criança tenha mais condições de se tornar independente nessas atividades. Por isso, a atuação do T.O. não se resume apenas às sessões de terapia ocupacional, mas principalmente às orientações e treinamentos para familiares e cuidadores.
- Também é fundamental na intervenção com autismo a parceria com pedagogos, tanto os profissionais da escola, quanto psicopedagogos particulares. O olhar pedagógico é indispensável no processo de inclusão escolar, afinal é o pedagogo que fará as adaptações curriculares e de materiais necessárias para que a criança possa ser inserida em uma classe de ensino regular. Avaliando o ritmo de aprendizado da criança o pedagogo pode decidir que conteúdos apresentar em cada momento e em qual velocidade. Compreendendo como a criança aprende (por via visual, auditiva, com material concreto, etc.) o pedagogo orienta professores, auxiliares e ATs (acompanhantes terapêuticos) sobre como apresentar as atividades para a criança com autismo.
- O educador físico também não pode faltar na equipe de intervenção de uma criança com TEA. Afinal, os esportes de quadra, natação, ginástica olímpica, etc., contribuem muito para o desenvolvimento das habilidades de coordenação motora ampla, que podem estar prejudicadas nessas crianças Outro grande benefício das atividades físicas é o controle das estereotipias, afinal, os esportes geram sensações físicas prazerosas que se assemelham àquelas produzidas pelas estereotipias e, com isso, a criança tende a buscar menos os comportamentos repetitivos e disfuncionais para se auto estimular, já que ela vem obtendo a saciação dessas necessidades sensoriais por meio dos esportes. Assim, substituímos comportamentos repetitivos, disfuncionais e solitários (estereotipias), por atividades lúdicas, funcionais e sociais (esportes). Em alguns casos, é necessário começar com atividades físicas individualizadas para, depois que a criança adquirir alguns pré-requisitos, inseri-la em atividades físicas coletivas. Mas a meta final tem que ser os esportes coletivos que, além de proporcionar todos os benefícios da atividade física, vão garantir o desenvolvimento de habilidades sociais, área muito afetada no autismo.
- Musicoterapia. Muitas crianças começam nesta atividade apenas pelo lúdico e pela estimulação de mais uma via de aprendizagem importante, a auditiva, já que em casos de autismo normalmente a aprendizagem via visual é mais fácil. Algumas crianças, porém, acabam gostando muito e tendo mais facilidade para algum instrumento e seguem estudando mais a fundo este instrumento, o que pode até virar uma profissão no futuro.
- A equoterapia (terapia com cavalos) também tem sido muito procurada por famílias de crianças com autismo. A interação com o cavalo, seja ao montar ou ao alimentá-lo, estimula o fortalecimento de habilidades sociais e do vínculo afetivo. Esta atividade também proporciona um contato único com a natureza e estimulações sensoriais muitos novas e raras para crianças da cidade grande, como: pisar na areia, acariciar o pelo do cavalo, dar comida na boca do cavalo, etc. Estas experiências sensoriais novas ajudam a dessensibilizar algumas aversões sensoriais. Os equoterapeutas costumam, ainda, estimular a comunicação da criança tanto com o cavalo, fazendo sons e movimentos corporais que dizem o que o cavalo deve fazer; quanto com os próprios terapeutas, pedindo para montar, descer do cavalo, trotar, etc.
- Algumas famílias também são acompanhadas por um nutricionista ou médico que avalia como o organismo da criança reage a determinados alimentos, se existe alguma alergia ou intolerância ou, ainda, algum alimento que gere aumento de agitação, irritabilidade ou estereotipias. Nestes casos, o médico ou nutricionista orienta uma dieta específica, por exemplo, sem glúten, sem caseína, sem lactose, etc.
Enfim, muitos outros profissionais podem acabar fazendo parte desta equipe de intervenção em algum momento, a depender das necessidades de cada caso. O importante é que esta equipe seja parceira, mantenha contato frequente e atue de forma coesa em direção a uma meta comum: o desenvolvimento e a melhora na qualidade de vida da criança com TEA e sua famílias.
Algumas palavras para a sociedade sobre o autismo.
Vivemos em uma sociedade com padrões preestabelecidos, onde qualquer um que esteja fora deles é de primeira instância excluído. Os autistas são alvos de um maior preconceito. Os prejuízos causados por essa dificuldade de aceitação, pela sociedade, ganham proporções enormes, prejudicando diretamente o convívio social do autista.
As pessoas devem pesquisar mais sobre o assunto, devendo olhar com interesse, paciência e tolerância. Alguns conhecimentos específicos, atendimentos profissionais adequados e apoio da família serão de extrema importância para que esses indivíduos se sintam seguros no ambiente, otimizando as relações e trocas pessoais.
Fontes:
https://www.comportese.com/2015/06/autismo-a-importancia-da-intervencao-multidisciplinar
https://diariodainclusaosocial.com/2016/04/13/autismo-os-beneficios-da-fonoaudiologia/
https://autismo.institutopensi.org.br/informe-se/sobre-o-autismo/o-que-e-autismo/
https://www.minhavida.com.br/saude/temas/autismo
Roberta Cruz Figueiredo é Fonoaudióloga formada pela Universidade Católica de Petrópolis e Especialista em Voz pelo Núcleo de Estudos da Voz, Clinvoz, Niterói- RJ.