Por Cássia Bertassone
Aposentar pode ser um grande alívio e satisfação ao final da vida contributiva, ou apenas um acréscimo na renda de quem não pensa em deixar o mercado.
Contudo, o tão sonhado “descanso” ao final de uma vida toda de trabalho pode não se traduzir neste sentimento de alívio e satisfação. O processo para se implementar esse benefício pode ser árduo, cansativo, doloroso emocionalmente e até com prejuízos financeiros irreversíveis se não for corretamente planejado.
Falando especificamente aos profissionais da área da saúde, em sua maioria, estes possuem mais de um vínculo remuneratório. Muitas vezes, atendem em seus consultórios particulares, são cooperados, empregados de hospitais, efetivos em algum Município e servidores do Estado ou da União. A flexibilidade de suas jornadas e as atividades que desenvolvem lhes proporcionam a possibilidade de estarem vinculados a vários regimes previdenciários ao mesmo tempo. Por isso, a necessidade de planejamento previdenciário.
Em qual órgão, ou regime previdenciário, estes profissionais devem se aposentar primeiro? Deve-se utilizar a aposentadoria especial? Ou apenas o tempo como atividade especial? Como verificar as hipóteses de aposentadoria, bem como a melhor aposentadoria a ser concedida, ou ainda se é o momento adequado, ou se todos os documentos estão aptos a conceder aquele benefício?
Por tais razões, ir ao INSS e solicitar a aposentadoria tão logo completem os requisitos pode, sim, importar em uma decisão de arrependimento posterior.
Conseguir o melhor benefício no INSS não significa, efetivamente, conseguir o melhor benefício previdenciário, pois há incontáveis hipóteses em que adiar a aposentadoria do INSS é financeiramente mais vantajosa, pois garantirá aposentadoria de maior valor em outro regime previdenciário.
E, ainda assim, nem sempre a tão sonhada aposentadoria especial no INSS, que lhe garante 100% da média das 80% maiores salários de contribuição, é efetivamente a melhor opção para esses profissionais.
Quando falamos em planejar a aposentadoria, significa calcular todas as hipóteses possíveis que aquele trabalhador poderá ter direito em todos os regimes que está vinculado e optar de forma consciente, com base em cálculos e valores de benefícios simulados, qual é o melhor benefício, de forma financeira ou de forma emocional.
Há 10 anos trabalhando com aposentados, várias vezes me deparei com o sentimento de arrependimento por parte deles em ter escolhido determinado benefício, decisão que efetivamente lhe privou de tantos outros.
Em épocas como as que estamos vivendo, do receio de uma reforma previdenciária iminente, e do medo contínuo de não ter direito a determinado benefício no futuro, várias pessoas estão decidindo pela aposentadoria sem consultar todas as hipóteses que lhe seriam devidas e verificar de forma concreta o que está se perdendo ou ganhando.
Por isso, o planejamento previdenciário é hoje a chave para garantir o melhor benefício em todos os termos (financeiro e emocional), e para garantir que nesta fase o aposentado realmente possa gozar dos benefícios conquistados através de anos de labor e de dedicação ao mercado do trabalho.
Cássia Bertassone da Silva, advogada, sócia do escritório Bertassone Advogados, especialista em Direito Previdenciário, especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, membro da Comissão de Direitos Previdenciário da OAB/ES, Subseção Cachoeiro de Itapemirim, autora de artigos jurídicos.