Por Thalyson Rocha
O COVID-19 é o assunto do momento e toda forma de cooperação e solidariedade será fundamental para superar essa situação. Para que possamos cooperar, é preciso nos informar. Vivemos numa sociedade em que a informação é uma moeda valiosa. Muitas vezes percebemos que ao mesmo tempo em que sobra informação, falta. As dúvidas e boatos se sobrepõem às certezas.
Com a identificação da origem do surto, na cidade de Wuhan, China, os olhares do mundo voltaram-se aos hábitos culturais daquele país, principalmente em relação ao consumo de comidas exóticas, no caso, morcegos. Em consequência, de imediato houve impactos econômicos locais, regionais e globais, como por exemplo, o cancelamento de competições esportivas, paralisação de indústrias ao redor do mundo e forte pressão na economia global.
Estudos internacionais, dentre eles do PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, identificaram que a disseminação do vírus, assim como em várias outras epidemias, teve origem na degradação ambiental, especificamente na intervenção humana em habitats selvagens.
A existência de um grande mercado internacional de tráfico de animais silvestres, a ausência de fiscalização sanitária e ambiental, bem como a ausência de regulação de mercados que vendem produtos de origem animal, são fatores que influenciam no desequilíbrio ambiental. No entanto, cabe ressaltar que esses contextos não ocorrem apenas na China, que foi alvo de antigos preconceitos e discursos xenofóbicos.
Desde a década de 50, ocorreram vários acidentes ambientais ao redor do mundo, cujas consequências serviram de lição e influenciaram na criação de instrumentos desenvolvidos nas diversas convenções e conferências ocorridas nas décadas seguintes, que culminaram na elaboração de normas para regular as atividades humanas com influência direta no ambiente, observando circunstâncias econômicas, tecnológicas, científicas e culturais.
Os efeitos da atual crise são visíveis em todos os setores e níveis da economia, com implicações ambientais, tributárias, econômicas, consumeristas, sociais, trabalhistas, civis, societárias, minerárias, penais etc. Ou seja, ninguém saiu impune das consequências e dos aprendizados que nos estão sendo apresentados.
O surgimento de pandemias não é novidade na história da humanidade. Dessa vez, identificamos a origem com bastante eficiência, indicando país, local, cidade, animal etc. Mas será que com a mesma rapidez poderemos alterar a forma com que permitimos intervenções na natureza sem qualquer análise científica? Será que conseguiremos mudar alguns de nossos hábitos ou culturas? Até quando a preocupação com o equilíbrio ambiental virá em segundo plano?
A situação nos faz lembrar o texto de Martin Niemöller: “Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar...”.
Thalyson Inácio de Araújo Rocha é Advogado e Consultor Jurídico Ambiental no Malini Rocha Advogados. Especialista em Direito Ambiental pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Especialista em Engenharia Ambiental no Centro Universitário São Camilo. Especialista em Direito Público na Faculdade de Direito Damásio de Jesus. MBA Executivo em Gestão de Negócios pelo Ibmec. Professor universitário.