07.03.2016
Base Bíblica: Gálatas 4:4
Paulo, em Gálatas 4:4, afirma que a vinda de Cristo ao mundo foi perfeitamente programada. Ao estudar a história dos 400 anos que antecederam a vinda de Cristo, notamos que parte desse preparo é a atuação e interseção de três culturas, três sociedades, três mundos. O apóstolo, em si mesmo, era exemplo de como as culturas judaica, grega e romana cooperavam tanto para a chegada do Messias como posteriormente para a pregação do evangelho.
Em Filipenses 3:5, Paulo nos mostra suas credenciais judaicas:
· Circuncidado (religião)
· Tribo de Benjamim (genealogia)
· Hebreu de hebreus (cultura)
· Fariseu (teologia)
No texto de Atos 22:25-26, descobrimos que o apóstolo era cidadão romano (cultura romana) credencial que lhe abriria portas durante seu ministério de pregação do evangelho. Em Atenas, percebemos a influência cultural da filosofia no NT (At 17:18), pois Paulo debatia com dois grupos de filósofos. Em seguida, no Areópago, importante grupo dominante em Atenas, Paulo soube muito bem aproveitar a cultura grega para debater o evangelho.
1. A Escritura Judaica
A Escritura que Jesus lia e que servia de base para a teologia apostólica foi a escrita e preservada pelos judeus. Percebemos isso pelo fato histórico de que os primeiros livros do NT só foram escritos, em face de tenro debate, a partir de 47 d.C., e também pela citação que os escritores bíblicos fazem no AT.
Os textos-chave para esse argumento são Romanos 15:4 e 1 Coríntios 10:11. Paulo ensina que tudo que está registrado na história dos judeus é modelo, exemplo e ilustração para nosso ensino. Vamos verificar quais as principais situações em que podemos perceber o uso do primeiro testamento, as Escrituras dos judeus, no ministério de Cristo e na expansão do cristianismo.
Mateus e Romanos são os dois livros campeões no uso do AT. O primeiro faz uso das Escrituras judaicas para legitimar a identidade de Jesus como Messias; o segundo trata da questão do reino d Deus ao mostrar como Deus, por meio de Israel, fez nascer a igreja.
1.1 Jesus Usou o Antigo Testamento
Com base no Evangelho de Mateus, é possível perceber quanto o AT foi usado por Cristo.
Examinando o quadro, percebemos que a Bíblia hebraica foi usada por Cristo para:
· Expor a vontade de Deus;
· Mostrar o plano de Deus;
· Obter a vitória em Sua vida com Deus.
2. A Teologia Judaica
Um período muito importante para a definição da teologia judaica que influenciou o NT foi o período interbíblico. Esse é o tempo entre o livro de Malaquias e o começo da era neotestamentária. O povo de Israel estava reconstruindo sua sociedade e seu templo. Ainda subjugado, ora pelos persas, ora pelos romanos, o povo se organizava em movimentos sociais e grupos religiosos.
2.1 Movimentos Sociais Messiânicos
Os grupos messiânicos eram comuns e foram fundamentais para a manutenção da esperança e do fervor messiânicos. Alguns textos nos mostram indícios da interação desses grupos com o NT.
Barrabás, o bandido colocado ao lado de Jesus em Seu julgamento, não era apenas um criminoso comum, mas sim uma espécie de Robin Wood, que tomava dos ricos para dar aos pobres, sendo parte de uma espécie de movimento messiânico que pretendia libertar os oprimidos, Lucas nos diz que ele estava preso por perturbação da ordem pública e homicídio (Lc 23:19).
Gamaliel, ao opinar sobre os cristãos, citou dois movimentos messiânicos: um liderado por Teudas (At 5:36); e outro por Judas (At 5:37). Ao usar as expressões “insinuando ser ele alguma coisa” e “levou muitos consigo”, mostra que eles foram líderes carismáticos que atuaram incitando o povo contra Roma e insinuando-se como Messias. Josefo, historiador cristão do primeiro século, nos conta que Judas nasceu em Gamala e viveu na Galileia, ele instigou o povo à rebelião no censo de Quirino. O bando de Judas foi disperso, mas não extinto, e voltou à cena durante as guerras judaicas, a primeira em 68 d.C.
As contribuições teológicas desses movimentos foram:
a. O ardor da esperança messiânica: o anseio pela libertação, ainda que material, fez com que essa expectativa permanecesse viva no povo;
b. A reflexão político-social: temas recorrentes sobre o envolvimento com César, os pobres, a materialidade do reino de Deus são patentes e importantes durante o ministério de Cristo na terra, e ainda hoje, tema de debate entre os cristãos.
2.2 Partidos Religiosos Judaicos
Outro grupo que contribuiu muito como semente da teologia neotestamentária foi o dos fariseus. Durante o período interbíblico, esse grupo se levantou como defensor da Palavra. Como parceiros dos escribas e estudiosos da lei, devotavam a vida a estudar as Escrituras e ensiná-las ao povo. Seus principais pontos Teológicos aparecem na teologia cristã.
· Soberania e predestinação
· Vida após a morte
· Juízo final
· Ressurreição do corpo
· Mundo espiritual organizado e populoso (céu e inferno)
· Monoteísmo ético
· Esperança escatológica
Mesmo estando em oposição a Jesus todo o tempo, os fariseus tiveram importância crucial na preservação das doutrinas essenciais e das Escrituras. Resta ainda dizer que eles integravam o partido religioso mais ligado às massas, o que facilitou a assimilação de doutrinas cristãs por parte dos judeus que escutaram o evangelho.
3. A “Igreja” Judaica
Quando Israel foi para o exílio, ficou sem templo, mas não deixou de adorar ao Senhor nem de examinar Sua palavra. Esdras e apontado pela tradição como um dos grandes organizadores da vida espiritual desse tempo. Há duas heranças interessantes daqui. A primeira, a semente do que se transformaria numa vasta literatura rabínica. Jesus mesmo aplicou regras hermenêuticas que vinham dessa tradição. Por exemplo, em Lucas 4:18, Jesus leu o texto de Isaías 61:1-2, declarando Ele mesmo ser o cumprimento de tal profecia. O que Jesus fez foi valer-se de uma prática hermenêutica chamada Pesher, na qual um mestre com autoridade divina declarava o cumprimento de uma profecia do Antigo Testamento.
A segunda herança dessa tradição é a sinagoga. A igreja herdou de diferentes áreas da sinagoga aspectos significativos para sua vida.
a. O culto – Na sinagoga, o culto era centrado nas Escrituras. Os primeiros cristãos eram judeus e transportaram a centralidade da palavra de Deus para sua pregação. Basta observar o sermão de Pedro em Atos 2 e o discurso de Estevão em Atos 7.
b. As orações – uma cerimônia na sinagoga sempre tinha 20 recitações de orações em forma de bênçãos. O conteúdo de tais orações levava os ouvintes a agradecerem a Deus e a reconhecerem que Ele é o provedor perfeito. Atos 2:42 nos mostra que a igreja perseverou nas orações.
c. Descentralização do culto – Diferentemente do templo, as sinagogas eram espalhadas em regiões, cidades e até países diferentes. Assim, estivesse ou não o judeu em Jerusalém poderia estudar a Torá e ter comunhão com seus irmãos. Os primeiros cristãos entenderam que a ordem de Atos 1:8 contemplava o mesmo princípio: espalhar-se pelo mundo inteiro.
Conclusão
Os judeus, a cultura e a religião delas foram canal de preparo para a vinda do Messias. A fé cristã e sua expansão devem muito ao cenário que teve participação importante dos escritos, dos grupos religiosos e das instituições do povo escolhido de Deus.
Ao observar isso, agradeça a Deus, que usou Seu povo para preservar as Escrituras e, do meio desse povo, levantou homens corajosos que interpretaram as profecias e nos fizeram enxergar, pela revelação do Novo Testamento, a salvação que vem dos judeus, Jesus (Jo 4:22).
Fonte: Revista Vida Cristã –Escola Bíblica – www.editoracristaevangelica.com.br