14.03.2016
Base Bíblica: Atos 17:16-34
Assim como os judeus contribuíram para a formação do NT, gregos e romanos também o fizeram. Não é difícil ficar encantado diante dos detalhes talhados por Deus na política e na sociedade Greco-romana de modo a preparar o mundo para receber o evangelho bem como cooperar na expansão dele.
1. As Contribuições Gregas
O império grego nunca existiu politicamente, mas intelectualmente é vivo até hoje. Alexandre, o Grande, não viu a concretização de seu projeto helenista, mas foi graças à ambição de levar a cultura grega ao mundo todo que o cristianismo encontrou ambiente fértil para seu surgimento e expansão.
1.1 O Helenismo
Alexandre tinha o alvo de helenizar o mundo. Grécia, em grego, é ellene, daí vêm as palavras “helenizar” e “helenísmo”. O projeto do conquistador era espalhar a língua e a cultura grega por todo o mundo. Ao conquistar uma determinada região, implementava seu programa. Morreu antes de conseguir, mas seus sucessores, especialmente os Ptolomeus, preservaram o projeto e o colocaram em execução, espalhando a cultura grega no Egito e na Ásia, influenciando de tal forma o império romano do Ocidente que em nossa sociedade encontramos raízes de nosso pensamento, cultura e sociedade naqueles dias.
1.2 A Língua Grega
O grego ático ou clássico falado pelos eruditos era uma língua extremamente difícil, mas Deus permitiu que o uso do grego pelos soldados de Alexandre, o Grande, formasse um dialeto simplificado com o nome de Koiné, que significa “comum”. Essa língua rapidamente se espalhou como o idioma do comércio e da comunicação escrita internacional. É possível encontrar decretos do senado romano, algumas peças literárias, cartas e livros escritos nessa língua.
A estrutura literária da língua e sua retórica também contribuíram para o evangelho. Em suas cartas, Paulo usou a ordem das epístolas gregas como estilo literário. A carta de Tiago apresenta uma diatribe, um estilo literário de crítica e denúncia moral bem claras. Esse estilo literário é importante no Novo Testamento já que 21 dos 27 livros usam o gênero epistolar. As cartas da antiguidade mantinham estruturas semelhantes:
* Saudação; * Corpo da Carta; * Despedida.
As cartas eram de vários tipos, dependendo da intenção do remetente.
Quer ver como as cartas do NT e encaixam em uma ou mais categorias?
É interessante como o grego abriu as portas para Paulo. Pelo menos em uma ocasião, Paulo teve a chance de argumentar com um comandante porque falava grego (At 21:37-40).
O hábito de ler publicamente também é encontrado no Novo Testamento. Paulo recomendou a Timóteo que lesse as Escrituras, e essa não é uma referência à leitura devocional, mas sim a leitura em voz alta (1Tm 4:13). A razão é simples: as cartas eram escritas em letras maiúsculas, sem espaços entre as palavras. Ler em voz alta ajudava a separa as palavras e a entender o texto. Além disso, havia muitos que não sabiam ler, naquela época.
1.3 A Septuaginta (LXX)
Outra herança muito importante do helenísmo foi a Septuaginta, geralmente simbolizada pela sigla LXX, que é número 70 em algarismos romanos. Uma lenda diz que o rei Ptolomeu II pediu a 72 sábios que traduzissem a Torá para o grego afim de incluí-la na famosa biblioteca de Alexandria. Eles foram mantidos em salas separadas, mas produziram versões autênticas do texto. Josefo diz que o Pentateuco foi traduzido no século 3º antes de Cristo, mas o restante foi feito ao longo do tempo. Essa foi a versão do Antigo Testamento usada pelos escritores do Novo Testamento. A maior parte das citações vêm dessa versão. Por isso, em algumas delas, encontramos pequenas alterações.
1.4 A Filosofia
Platão e Aristóteles foram os filósofos que mais trouxeram influências ao cristianismo. De certa forma, eles influenciaram a teologia antes e depois do seu tempo. O estoicismo afirmava o governo do universo por uma razão universal e a felicidade humana como resultado do exercício de virtudes que acomodassem o homem à razão soberana. Já o epicurismo afirmava que o homem vivia para buscar a felicidade e, como a verdade só se conhecia pelos sentidos, então o que o homem descobrisse por eles traria felicidade. Pregavam aproveitar a vida porque tudo acabava depois da morte.
O Novo Testamento é a contracultura de todas essas escolas filosóficas. O ideal se fez carne e habitou entre nós sem contaminar-se com a carne. A ética só é possível quando produzida pelo próprio Deus. A felicidade verdadeira se dá pela obra de Deus em nós, ao nos redimir por meio da obra de Cristo na cruz.
2. As Contribuições Romanas
Os romanos dominaram literalmente o mundo da antiguidade. Eles tiveram poder político e militar sem comparação até os dias de hoje, Tanta grandeza ajudou o cristianismo ainda que de maneira negativa, quando passou a perseguir os cristãos entre 60 a 300 d.C., quando foi oficializado pelo imperador Constantino. Durante os primeiros anos do império romano, dois elementos beneficiaram o cristianismo: a pax romana e a unidade do império.
2.1 A Pax Romana
A pax romana foi um longo período de ausência de guerras civis no império romano e vigorou de 29 a.C. até a aproximadamente 180 d.C. Ao mesmo tempo que desfrutava de paz interna, os cidadãos tinham a proteção do exército romano contra ataque dos “bárbaros”. Os povos conquistados tinham de aceitar a pax romana, acordo controlado pelo exército na região conquistada.
Quebrar ou agredir a pax romana era um problema sério. Por vezes, os acusadores de Jesus tentaram arranjar motivos para acusá-Lo de perturbador da ordem (Lc 20:26), mas nunca conseguiram.
2.2 A Unidade do Império
Os romanos tinham uma grande malha viária, de estradas pavimentadas. A possibilidade de uma viagem segura, sem problemas, fomentou alguns hábitos e beneficiou o cristianismo.
a. A segurança e a boa qualidade das estradas permitiam que vários missionários viajassem com segurança. O único relato que encontramos de perigos no Novo Testamento em uma das viagens de Paulo foi o naufrágio. Violência ou assaltos não são mencionados.
b. O exército garantia o acordo de paz, à medida que se deslocavam por todo o império com segurança.
c. O correio público também beneficiou o cristianismo, já que cartas podiam ser enviadas com certa rapidez. Sabemos que as cartas de Paulo tinham remetentes certos e que depois circulavam entre outras igrejas.
d. O comércio também foi facilitado pelas estradas. Imagine quantos podiam evangelizar e ser evangelizados numa cidade com mercado e rota comercial como Corinto!
2.3 A Cidadania Romana
A cidadania romana podia ser recebida por direito de nascença, concedida por órgão com poderes para tanto ou comprada. No caso de Paulo ele tinha direito de nascença (At 22:28). Todo cidadão romano tinha direito a:
a. Ocupar cargos públicos;
b. Participar de assembléias políticas;
c. Obter vantagens fiscais;
d. Escolher apresentar-se em juízo.
Paulo foi beneficiado por sua cidadania romana quando ia ser açoitado; foi liberto por causa de sua cidadania (At 22:24-29). O comandante temeu, pois podia perder seu posto por amarrar um cidadão romano. Em outra ocasião, diante de acusações injustas da parte dos judeus, valeu-se do direito de cidadão e apelou para César, ou seja, para que fosse julgado pelo imperador ou por um representante político romano.
Conclusão
A expressão “plenitude do tempo” (Gl 4:4) não significa o período de cumprimento de todas as demais eras. Mas, antes, o fato de que o Pai enviou Seu Filho no “momento exato”, no “tempo certo”. E esse tempo é o tempo de Deus. Ele “enviou seu Filho, nascido de mulher”, e essa mulher estava no mundo, vivia no mundo, ocupava um espaço geográfico.
Fonte: Revista Vida Cristã –Escola Bíblica – www.editoracristaevangelica.com.br