02.05.2016
Base Bíblica: João 20
O Evangelho segundo João se destaca por duas ênfases especiais: a devocional e a teológica. John Broadus diz: “Nenhum outro livro levou tantas pessoas a Cristo e inspirou tantos a segui-lo e servi-lo” (Introdução ao Estudo do Novo Testamento, p. 135).
Em comparação aos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), João é completamente diferente na estrutura e no estilo, embora apresente os fatos em ordem lógica semelhante aos demais. Se os outros evangelhos têm preocupações nas ações de Jesus, João claramente enfatiza a teologia e o relacionamento. Vejam o que diz Merrill C. Tenney: “As entrevistas pessoais são várias, e relação de Jesus com os indivíduos é mais acentuada do que seu contrato geral com o público. Esse evangelho é fortemente teológico e discute de modo específico a natureza de sua pessoa e o significado da fé nele” ((O Novo Testamento Sua Origem e Análise, p.201).
1. Visão Panorâmica
1.1 Informações Básicas
a. Grupo: Evangelhos
b. Autor: João
c. Data: 85-90 d.C.
d. Local: Éfeso
e. Alvo: Cristãos da Ásia Menor
f. Versículo-chave: João 20:31
g. Expressão-chave: Cristo Deus
1.2 Esboço
1.3 João em Uma Sentença
João mostra Deus agindo na história por meio de Jesus, o Filho de Deus, narrado com uma perspectiva pós-ressurreição.
2. Características do Evangelho
2.1 Sobre o Autor
João era irmão mais jovem de Tiago, da família de Zebedeu. Fazia parte, juntamente com Pedro e Tiago, do círculo íntimo dos doze discípulos de Cristo. É claro que o autor era judeu. Os debates entre Jesus e os líderes religiosos em Jerusalém sobre as questões mais delicadas da interpretação que os judeus faziam da lei não eram fáceis de entender ou de registrar naquele tempo por um autor que não fosse judeu. O evangelista também foi testemunha ocular dos fatos que registrou (cf Jo 13:23; 19:26,35; 20:2; 21:24). Em três importantes ocasiões do ministério terreno de Jesus, João é mencionado em companhia de seu irmão Tiago e de Pedro: na ressurreição da filha de Jairo (Mc 5:37), na hora da transfiguração (Mc 9:2) e no jardim do Getsêmani (Mc 14:33). Foi bispo em Éfeso. É também autor de três epístolas e do Apocalipse.
2.2 Sobre o Livro
Destacamos cinco características marcantes desse evangelho.
a. Dado peculiar: Cerca de 90% do evangelho é exclusivo, esse contraste se dá pelo propósito peculiar do apóstolo João ao escrevê-lo.
b. Discurso: Quatro longos discursos de Cristo são apresentados com grande ênfase.
Os debates de Cristo também receberam destaque. Alguns aconteceram em ambiente tenso e outros em ambientes mais tranqüilos (Cap. 5; 8; 10; 12).
c. Diálogos: A história de Cristo revela alguns diálogos notáveis que conduziram homens e mulheres à fé no próprio Senhor Jesus.
d. Dualismo: “João trabalha com as categorias ‘este mundo’ e o ‘mundo de cima’, entre Deus e o diabo, entre a luz e as trevas” (Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento, p.155), tanto no evangelho quanto nas epístolas.
e. Diretrizes: João foi o último apóstolo a morrer.
O vocabulário de João é talvez o mais simples do NT, mas os seus pensamentos são mais profundos.
João 3:16 é o versículo mais citado e pregado no mundo.
Há mais sobre o Espírito Santo neste livro do que em todos os outros evangelhos juntos.
3. O Número “Sete” no Evangelho
O número sete tem grande significado na Bíblia. Em João, sete é o número-chave para significar alguns pontos notáveis: sete sinais, sete testemunhos e sete confissões. Essa divisão fornece a possibilidade de um entendimento lógico do evangelho. Os sinais revelam o poder de Cristo; os testemunhos dimensionam a fé em Cristo, e as confissões ratificam a messianidade de Cristo.
3.1 Sete Sinais de Cristo
São sete sinais ou sete milagres, dos quais cinco estão registrados só em João. Foram registrados para comprovar a divindade de Cristo e demonstrar o Seu poder. “Esses sete milagres deram-se precisamente nas áreas em que o homem é incapaz de efetuar qualquer mudança nas leis, ou nas condições, que afetem sua vida. Nessas áreas, Jesus provou ser poderoso onde o homem é impotente; e as obras que ele fez testificam sua capacidade sobrenatural” (Tenney,p.205).
Certamente a reação das pessoas aos sinais foi diferente. Muitos creram e foram salvos (Jo 2:11; 4:53; 6:20-21; 10:41-42; 11:44-45), outros negaram o poder de Deus, não creram em Cristo e não obtiveram salvação (Jo 5:10-16; 6:41, 64, 66; 7:5; 9:14-16).
3.2 Sete Testemunhos Sobre Cristo
Sete personagens diferentes se pronunciam apresentando a identidade de Cristo.
3.3 Sete Reivindicações de Cristo
As afirmações de Cristo iniciadas com a expressão “Eu Sou” indicam claramente que Cristo reivindicava Sua divindade. Isso implica dizer que Ele é o mesmo Senhor do AT presente no NT: “antes que Abraão existisse, Eu Sou” (Jo 8:58). Afirmou Ladd: “Todas essas declarações são reflexos de uma autoconsciência absoluta” (Ladd,p.202). “Eu sou o pão da vida” (Jo 6:35); “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8:12); “Eu sou a porta” (Jo 10:7,9); “Eu sou o bom pastor” (Jo 10:11,14); “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11:25); “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14:6); “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15:1).
4. Evangelho da Defesa da Fé
O evangelho de João é conhecido como o “Evangelho da Fé”. Segundo o professor Carlos Osvaldo, também “poderia ser chamado de ‘O Evangelho do Conflito entre a Fé e a Incredulidade’, porque, desde o princípio até os eventos finais do livro, a apresentação do Messias provoca confiança e incredulidade, com os resultados naturais de bênção e condenação” (Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento,p.157).
É precisamente por motivos como esses que João apresenta claramente a razão pela qual o evangelho foi escrito: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20:30-31). Nessa passagem encontramos a declaração-chave do livro.
Merril C. Tenney destaca três palavras em João 20:30-31 que podem perfeitamente resumir a essência apologética do livro: sinais, creiais e vida. “Sinais” já foram apresentados anteriormente, foram registrados para mostrar o poder de Cristo e ratificar Sua divindade. “Creiais” é descrita 98 vezes, com variações, em todo o evangelho. Significa entrega total e plena a Cristo e entendimento do que é ser igreja. “Vida” e o significado claro do que é concedido na salvação. É a mais alta experiência que o homem pode experimentar (Jo 17:3).
Muitos entendem que João foi escrito para combater o “gnoticismo”, que acreditava ser Jesus uma espécie de fantasma e não o próprio Deus vindo como Homem (cf 1Jo 4:2-3). O fato é que o evangelho comprova tanto a humanidade quanto a divindade do Senhor Jesus, como se vê no quadro a seguir.
Cristo foi identificado como “o homem chamado Jesus” (Jo 9:11), que também é “o Santo de Deus” (Jo 6:69).
Conclusão
Sem dúvida, o Evangelho segundo João é peculiar. As peculiaridades e similaridades de João nos auxiliam a ter mais ferramentas em defesa da nossa fé.
Fonte: Revista Vida Cristã –Escola Bíblica – www.editoracristaevangelica.com.br