29.08.2016
Texto Básico: 1Reis 19.15-21
Texto Devocional: Isaías 6.1-13
Versículo-Chave: 1Reis 19.21: “Voltou Eliseu de seguir a Elias, tomou a junta de bois, e os imolou, e, com os aparelhos dos bois, cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram. Então, se dispôs, e seguiu a Elias, e o servia.”
Alvo da Lição: Cooperar na compreensão da natureza do chamado ministerial e desafiar o aluno a atender o chamado de Deus para sua vida pessoal.
Leia a Bíblia diariamente:
Você se lembra do contexto em que a história do chamado de Eliseu aconteceu? Dois elementos bastante sérios faziam pensar que o Senhor não estava mais chamando pessoas para a obra do ministério.
1. Os tempos eram bastante difíceis, com extraordinário afastamento de Deus e influência do mundo dentro da comunidade do povo de Deus. Pense um pouco sobre a situação no reinado de Acabe e a maneira como o povo de Israel estava influenciado pelo sistema religioso e secular do mundo ao redor.
2. O profeta Elias estava cansado, desanimado e deprimido, e isso lhe fazia crer que estava de fato sozinho, que não haveria mais profetas, que era o tempo do fim.
O que o Senhor faz é mostrar a Elias que Ele está no controle e que, soberanamente, continua chamando para Sua obra aqueles a quem Ele deseja usar, no lugar onde Ele
os deseja colocar (veja v.15-18).
Há momentos em que a igreja também parece duvidar que o Senhor continua chamando “obreiros para a seara”. Parece que chamado vocacional para ministério pastoral, ministério em educação cristã (especialmente educação infantil) ou missões é questão de moda – fase. E o mais incrível é que parece que a fase nunca é agora. A verdade é que o Senhor declara que o campo está branco para a ceifa (Jo 4.35) e que hoje é o dia de salvação (2Co 6.2).
Vamos estudar na lição de hoje alguns princípios bastante importantes sobre vocação, chamado específico de Deus para Sua obra, esperando aplicá-los diretamente a nossa realidade.
I. O chamado de Deus geralmente alcança pessoas ocupadas
(1Rs 19.19)
Quando o assunto é chamado ministerial, a ideia geral parece ser de que Deus pode chamar os outros, mas não faria isso conosco. De onde vem essa ideia? Geralmente vem do fato que estamos já ocupados. Quando somos jovens, estamos ocupados em construir nossos sonhos, estudar, arrumar bom emprego, fazer o futuro. Quando so-mos mais maduros, aí então não faz sentido um chamado pois estamos já no mercado de trabalho, com família estruturada, com projetos em andamento. Do ponto de vista de Deus, as coisas não são bem assim. Veja o que aconteceu com Moisés, com Isaías, com os discípulos do Senhor Jesus!
Eliseu vivia numa fazenda no município de Abel-Meolá (lugar de festa). Ele devia ser de uma família rica. Suas terras eram férteis (irrigadas pelo Jordão), e quase não sofreram com a seca mencionada nos capítulos anteriores à nossa história. Elias o encontrou na companhia de outros onze homens lavrando a terra - todos estavam trabalhando - e foi entre eles que Deus chamou um para servir como profeta.
Ainda hoje, as pessoas a quem o Senhor decide usar em Sua obra são trabalhadores, pessoas que vão abrir mão de seus muitos sonhos - ou da realidade construída após a fase de sonhos da adolescência. Os vocacionados podem estar num cursinho pré-vestibular, numa fábrica, numa universidade, numa fazenda. O projeto que Deus tem para nossa vida é tão extraordinário que nem faz sentido preocupar-nos com o que estamos fazendo, ainda que aos nossos olhos e de nossos familiares e amigos pareça ser tão importante. O que importa não é o que estamos fazendo, mas o que Deus nos chama para fazer!
II. O chamado de Deus é feito com autoridade e urgência
(1Rs 19.19-20)
Não é fácil saber exatamente o que se passava na mente de Elias quando se aproximou de Eliseu e lançou sua própria capa sobre ele. Não sabemos se eles se conheciam, e tudo leva a crer que eram pessoas bastante diferentes, mas havia uma ordem do Senhor dada a Elias que devia ser obedecida (1Rs 19.16).
Por outro lado, Eliseu sabia bem o que significava o ato praticado por Elias. Isso é evidente na reação imediata de Eliseu (1Rs 19.20) e nas palavras de Elias (1Rs 19.20). A um cabia a obediência em ungir, e ao outro cabia o dever de seguir imediatamente na base do chamado (ordem) que lhe fora comunicado.
Assim como Eliseu, nós sabemos bem quando Deus está nos incomodando o coração e chamando para Sua obra. Embora muitos irmãos usem a desculpa de que é difícil saber a vontade do Senhor, a verdade é que geralmente sabemos bem o que Ele quer, mas apenas não estamos prontos a obedecer.
A concessão de Elias que permite a Eliseu “beijar seu pai e sua mãe” parece incoerente com o chamado de Jesus aos discípulos (Mt 8.21-22). A verdade, porém, é que, no caso do candidato a discípulo de Jesus, o que ele dizia é que Jesus não era sua prioridade – quando seus pais morressem e fossem sepultados, então ele seguiria a Jesus. O caso é de desculpa e falta de senso de urgência – algo muito parecido com o que acontece bastante em nosso meio quando pessoas que sabem que são chamadas por Deus para o ministério ficam adiando indefinidamente o dia quando finalmente irão obedecer. Isso é pecado e rebeldia contra o Senhor, e demonstra falta de compreensão da natureza da obra do ministério.
No caso de Eliseu foi diferente. Tratava-se de alguém que “imediatamente” deixou os bois, “correu” após Elias, e demonstrou seu carinho e compromisso com os seus pais, justamente conforme o princípio bíblico: se alguém não é fiel com os de sua própria casa, não tem autoridade para sair por aí dizendo-se ministro de Deus. Em ambos os casos trata-se de uma ordem daquele que pode dar ordens e de imediata obediência ou evidente rebeldia contra o Senhor.
III. O chamado de Deus é motivo de celebração
(1Rs 19.21)
Ouve-se com bastante frequência em nosso meio alguém lamentando a chamada de um irmão ou irmã para o ministério. Há casos em que a pessoa que faz comentários negativos é alguém que teve experiência pessoal difícil no ministério, ou acompanhou outros que exerciam o ministério em contexto de muito sofrimento ou murmuração. O problema com essa atitude é que fica a impressão de que Deus não é amoroso, ou que Sua vontade não é “boa, perfeita e agradável” (conf. Rm 12.2).
A festa de despedida de Eliseu foi grande e não deixava dúvidas acerca de suas intenções – ele sacrificava aquilo que representava sua vida anterior ao chamado (matando mesmo!), celebrava seu chamado, e declarava a todos a mudança de rumo na sua vida. Não haveria como olhar para trás porque os bois haviam sido sacrificados, os aparelhos de trabalho haviam sido queimados, e tudo aquilo era passado – história de um outro momento em sua vida.
Devemos lamentar que tantos irmãos que já “sentiram o manto de Elias” sobre os seus ombros continuam divididos, sempre temerosos de sacrificar “os seus bois”. Ainda mais triste é que a própria igreja e os pastores tão consistentemente estão aconselhando os jovens a seguirem esse caminho, justificando a atitude pelo fato de vivermos dias difíceis. Por certo, nossos dias não são mais difíceis ou incertos do que os tempos do chamado de Eliseu (basta olhar o contexto para ver as evidências disso!), e ainda hoje “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” (Lc 9.62).
IV. O chamado de Deus visa formar servos
(1Rs 19.21 e 2Rs 3.11)
Se o texto terminasse sem a parte final do verso 21, facilmente pensaríamos que Eliseu havia sido chamado para ser honrado (promovido) – que ir para o ministério seria coisa fácil. O texto bíblico nos informa, porém, que Eliseu inicia sua carreira numa atitude de servo (e observe-se que não é apresentado como o “famoso servo do Senhor”, mas como o servo de Elias).
Elias e Eliseu andaram juntos por 10 anos (um longo período de formação que parece que as pessoas lutam muito para evitar), instruindo o povo na adoração ao Deus verdadeiro, confrontando a idolatria e opondo-se à corrupção moral e social que destruía a nação. Juntos eles abriram a Escola dos Profetas (um verdadeiro seminário!), ensinando-lhes a Lei do Senhor e preparando-os para servir ao Senhor na obra do ministério.
Pessoas que sentem o chamado do Senhor devem iniciar seu preparo aprendendo a se tornarem servos – a autoridade ministerial é constituída na base de um coração de servo. Não devem precipitar-se na busca de posições honrosas ou títulos de reconhecimento humano. Depois de dez anos, então, Eliseu havia aprendido o sentido
do ministério e estava pronto para assumir – e o faz numa atitude muito semelhante à de Josué, sucessor de Moisés, conforme Deuteronômio 31.1-8. O desejo de ter “porção dobrada do espírito de Elias” demonstrava que havia admiração e respeito pelo ministério daquele que era mais velho, e que o caminho que sonhava para sua vida passava exatamente pelos mesmos caminhos dele.
Conclusão
O solitário (e às vezes melancólico) profeta Elias não apenas é livre da morte na experiência do monte Horebe. Deus lhe dá um companheiro “festeiro” (Abel-Meolá significa lugar de festa) e ousado, e juntos acabam formando um batalhão de profetas prontos para uma mudança profunda na nação.
Elias não teme investir na pessoa de Eliseu, e este dá sequência a um projeto maravilhoso que o Senhor havia passado como visão a Elias.