05.08.2019

Jeremias, Abençoado ou Derrotado

Drª Joyce Elizabeth W. Every-Clayton

 

 

Texto Básico: Jeremias 16:1-9

 

Texto Devocional: Jeremias 20:7-13

 

Texto Chave: Jeremias 16:5: “Porque assim diz o Senhor: Não entres na casa do luto, não vás a lamentá-los, nem te compadeças deles; porque deste povo retirei a minha paz, diz o Senhor, a benignidade e a misericórdia.”

 

Leia a Bíblia diariamente:

 

Dia	Texto
Segunda	1Coríntios 7:25-35
Terça	1Coríntios 5:7-13
Quarta	1Pedro 4:1-8
Quinta	Salmos 55:1-8
Sexta	Jeremias 26:1-11
Sábado	Jeremias 13:1-11
Domingo	Mateus 16:13-17

 

 

Jeremias era mesmo um homem diferente: pacato, não dado às festas, solitário, e em certas ocasiões um pouco deprimido. Uma voz dissidente em sua geração. Mas obviamente muito abençoado por Deus. Aliás, é bom pensarmos no sentido de ser abençoado. Será que a percepção popular de crente abençoado é correta? Há neste livro diversos trechos que nos ensinam a respeito do assunto.

 

 

I. Casamento? Nem Pensar

  (Jr 16:1-4)  

 

Neste trecho Deus dá uma ordem chocante a Jeremias: “Não tomarás mulher, não terás filhos nem filhas neste lugar” (Jr 16:2). Antes de tudo é preciso lembrar que nem todos os profetas receberam tal ordem. Isaías e Ezequiel, por exemplo, eram casados (cf Is 7:3;8:3;Ez 24:18). Mas esse não foi o caminho de Deus para Jeremias. A explicação dada é que o celibato dele seria mais um sinal da parte de Deus para Seu povo rebelde – uma dramatização permanente, por assim dizer – a fim de que Judá pudesse vislumbrar a tragédia de gerações futuras morrendo de epidemias, à espada ou de fome (Jr 16:4) e todas as consequências de invasões. Jeremias acatou a ordem divina, entregando-se a uma vida pessoal que foi uma verdadeira encarnação da mensagem pregada.

 

 

II. Vida Social? Esqueça

  (Jr 116:5-9)  

 

Nem velórios (Jr 16:5-7) e nem banquetes (Jr 16:8). Talvez uma apreciação de práticas comuns na época ajude a compreender os fatos. É sabido, por exemplo, que “incisões” e cabeças raspadas (Jr 16:6) faziam parte de ritos funerários pagãos (condenados na Lei de Deus (cf Dt 14:1-2)), evidentemente eram seguidos por contemporâneos de Jeremias (Jr 41:5). Semelhantemente, o “pão” e o “copo de consolação” (Jr 16:7) se referem a refeições servidas numa ocasião de luto. Enfim, Jeremias está proibido de participar de cerimônias populares. Não só de ritos que estão em desarmonia com a palavra de Deus, mas também de celebrações legítimas.

 

Pelo jeito estava chegando um período marcado por muita tristeza e pouquíssima alegria (Jr 16:8-9). Jeremias exortava seus ouvintes (Jr 16:10). E tudo por causa da idolatria: “me deixaram, diz o Senhor” (Jr 16:11). Logo, “deste povo retirei a minha paz, diz o Senhor, a benignidade e a misericórdia” (Jr 16:5).

 

 

III. Eu Quero é Fugir

  (Jr 9:2-6)  

 

A cena mostra um homem de Deus que prefere sumir e esconder-se no deserto. Mas não pelo mesmo motivo do salmista que queria fugir da hostilidade de seus inimigos pessoais (Salmos 55:5-8). Jeremias preferia fugir a contaminar-se com um povo infiel, imoral, mentiroso. Preferia fugir a ter de conviver com os resultados inevitáveis do pecado de um povo que decidiu opor-se a Deus. Preferia fugir a ter de reconhecer que ele não possuía amigos (Jr 9:4; cf Jr 12:6). A fuga não era a melhor opção. No deserto ou na cidade carregada de iniquidades, Jeremias teria que enfrentar seus medos.

 

IV. Ninguém Gosta de Mim

 

Conspiraram contra Jeremias (Jr 11:19). Acusaram-no de ser rixoso, contencioso (Jr 15:10). Deram surras nele e o meteram no tronco (Jr 20:2). Ameaçaram-no de morte (Jr. 26). Isso nos faz lembrar Daquele de quem Isaías escreveu: “olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso” (Is 53:2-3).

 

Como Jeremias administrou tamanha rejeição à sua pessoa? Quanto à conspiração, ele foi encorajado a não parar de pregar! E de fato, os conspiradores é que morreram (Jr 11:21-23). Rixoso? “Disse o Senhor: Na verdade, eu te fortalecerei para o bem e farei que o inimigo te dirija súplicas no tempo da calamidade e no tempo da aflição” (Jr 15:11). Surrado? Preso? De nada adiantou, pois Jeremias não se calou (Jr 20:3-6). Ameaçado de morte? Alguns (poucos) se colocaram ao lado dele (Jr 26:16-19).

 

Que se deduz de tudo isso? Que nosso Deus é soberano. Que Ele zela por Seu povo, protegendo e guardando em toda e qualquer situação. Que é mais importante ser fiel a Deus do que ser popular e admirado por todos.

 

 

V. Que Púlpito Estranho é Esse?

 

Jeremias plantou-se à entrada do templo (Jr 7:1-11) e ali ficou para pregaram ou melhor, para denunciar os pecados daqueles que vinham chegando para os cultos. Em outro momento, a ordem de Deus era para que ele pregasse “nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém” (Jr 11:6). Que tal a pregação feita com os pés enfiados na lama à beira do rio Eufrates (Jr 13:1-11)? E a mensagem proferida na casa do oleiro (Jr 18:1-12).

 

Percebe-se que Jeremias e o apóstolo Paulo compartilharam da mesma visão: “ai de mim se não pregar” (1Co 9:16); “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não” (2Tm 4:2).

 

 

VI. Jeremias e Jesus

 

Os aspectos da vida de Jeremias lembram fortemente o próprio Senhor Jesus. O povo da época de Jesus achava o Senhor parecido com o Jeremias (Mt 16:13-14). Basta examinar a vida de Jesus e observar as semelhanças com o profeta.

 

1. A Família de Jesus

Apesar das aberrações divulgadas por certos livros e filmes, Jesus não era casado, dando até a entender que casamento não é para todos (Mt 19:10-12). Ele não possuía casa própria: “O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9:58). Ele entendia que pertencer à família de Deus é mais importante do que pertencer a uma família terrena: “qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mc 3:35). Isso não significa dizer que Jesus é contra a família. Jesus preocupou-Se com Sua família terrena deixando João para cuidar de Sua mãe no momento em que estava para morrer (Jo 19:26-27). Estava com a família no casamento em Caná (Jo :1-12). Jesus abraçou crianças (Mc 9:36; 10:16), deu atenção às mulheres nas necessidades delas (Mc 5:25-34; Lc 13:10-16), permitiu que mulheres O servissem (Lc 8:2-3). Jesus tinha um lar que Lhe era especial (Lc 10:38-42; Jo 11:1-5; 12:1-2). Mas em primeiro lugar estava a convicção: “me cumpria estar na casa de meu Pai” (Lc 2:49).

 

Jeremias e Jesus valorizaram a família de Deus e a família terrena.

 

2. A Tristeza de Jesus

A Bíblia registra momentos de tristeza no ministério de Jesus: Seu choro (Lc 19:41; Jo 11:35), sua tristeza profunda (Mt 23:37; 26:38) e Sua dor (Mc 14:34). Um comentarista escreveu: “Aqueles que desejam convencer os outros a respeito das verdades de Deus devem demonstrar por meio de sua própria disciplina pessoal que eles acreditam naquilo que pregam”.

 

Jeremias e Jesus viviam a advertir acerca dos dias difíceis que seriam o juízo vindouro, e por isso, levavam uma vida de seriedade e de certa austeridade pessoal.

 

3. O Deserto de Jesus

Se Jeremias orou, chorou, angustiou-se, retirou-se muitas vezes, com Jesus não foi diferente. Pensemos na traição de Jesus. O sinal foi aquele beijo falso (Mt 26:48-49). Jesus angustiou-Se, mas chamou Judas de “amigo” (Mt 26:50). Parece que estamos ouvindo a pregação de Jeremias 9:1-6. Jesus também Se retirava para ter comunhão com o Pai, assim como Jeremias (Mc 3:7).

 

4. A oposição

Em sua primeira pregação pública, Jesus lembrou que enfrentaria rejeição: “nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra” (Lc 4:24). Na hora, Seus ouvintes “se encheram de ira… expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cimo do monte… para, de lá, o precipitarem abaixo” (Lc 4:28-29). Deus também avisou que Jeremias seria rejeitado (Jr 1:18-19).

 

5. A Pregação de Jesus

Jesus pregou à beira-mar, ao lado de um esquife, durante um jantar, na sinagoga, nos campos; a multidões, a indivíduos, a religiosos, à pessoas “do mundão”; com carinho, com dureza. Perceberam quantas semelhanças existem nas pregações de Jeremias e de Jesus?

 

 

Conclusão

A nossa indagação inicial? Será que a percepção popular do crente abençoado é correta? Estamos errados quando valorizamos demais o conforto pessoal, sociabilidade, popularidade, vida cristã fácil, púlpitos bonitos ou jeremias não gozava da bênção divina em seu ministério? O que acha? Está difícil opinar? Então, lembre-se de que o povo da época de Jesus achava Jesus e Jeremias parecidos! Pois é, apesar das aparências, nem Cristo nem Jeremias foram derrotados. Pelo contrário, foram mais que vencedores!

 

 

 

 

 Fonte: Revista Vida Cristã – Escola Bíblica – www.editoracristaevangelica.com.br