12.08.2019
Pr. Glenn Thomas Every-Clayton
Texto Básico: Jeremias 8:18-9:2; 11:18-12:6; 15:10-21; 17:14-18; 18:18-23
Texto Devocional: Salmo 109:21-31
Texto Chave: Jeremias 12:3: “Mas tu, ó Senhor, me conheces, tu me vês e provas o que sente o meu coração para contigo.”
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Deus chamou Jeremias para uma vida marcada por sofrimento e renúncia. Qual foi a reação dele? Como conseguiu suportar tamanha rejeição e solidão? Onde encontrou forças? Em vários momento ao longo do livro, o profeta nos permite acompanhar o relacionamento que mantinha com Deus por meio da oração. Nesses trechos, às vezes chamados de “confissões de Jeremias”, temos acesso precioso ao coração de um homem de Deus. Aqui e na lição seguinte, procuraremos aprender a respeito da vida de oração do profeta, pedindo que Deus use o exemplo dele para aprimorar a nossa vida de oração.
I. Diálogo com Deus
1. Questionamento
(Jr 16:1-4)
O profeta ouviu a sentença irrevogável do Senhor: “Eu os consumirei de todo” (Jr 8:13, 17). Jeremias foi então vencido por uma tristeza profunda, inconsolável (Jr 8:18). Já previu o exílio, e o questionamento do povo: “Não está o Senhor em Sião? Não está nela o seu Rei?” (Jr 8:19). Como pode ter acontecido um desastre desse? Não temos um Deus invencível? Onde Ele está agora?
Questionamentos aparecem muitas vezes na Bíblia (Sl 74:1; Jó 24:1; Hc 1:14). As respostas podem ser as mais diversas, pois cada caso é um caso, e nem sempre Deus responde na hora. Aqui a resposta veio de imediato: “Por que me provocaram à ira com as suas imagens de escultura, com os ídolos dos estrangeiros?” (Jr 8:19). Uma resposta em forma de pergunta desafiadora. A situação do povo é consequência do seu pecado; e o pecado não tem razão de ser.
O povo reagiu com apatia (Jr 8:20), Jeremias não! (Jr 8:21). E vem o questionamento do profeta: “Acaso, não há bálsamo em Gileade? Ou não há lá médico? Por que, pois, não se realizou a cura da filha do meu povo?” (Jr 8:22). Gileade era uma região de Israel conhecida por suas plantas medicinais (Jr 46:11). AS perguntas são novamente desafiadoras. A doença espiritual do povo de Deus não tinha razão de existir.
O trecho termina como começou, em tristeza profunda (Jr 9:1). Às vezes, como Jeremias, temos vontade de “cair fora”, de fechar os olhos a toda desgraça ao nosso redor. Mas Deus não deu essa opção a Jeremias. Muito menos a nós.
2. Discussão
(Jr 11:18-12:6)
Jeremias tomou conhecimento da perseguição que estava sendo tramada contra ele pelos homens de Anatote (Jr 11:18-19,21) – sua própria cidade (Jr 1:1). Anatote era uma cidade sacerdotal (Js 21:13,18). É bem provável que houvesse ali um pequeno santuário, o que era contra a lei do Senhor (Dt 12:13-14). Quando o rei Josias, na reforma nacional, fechou todos esses santuários e trouxe os sacerdotes a Jerusalém para exercer ministérios secundários (2Rs 23:8-9), Jeremias apoiou a reforma e assim incorreu na ira dos colegas e até da sua própria família (Jr 12:6; cf Jr 9:4).
Jeremias não se vingou pessoalmente, mas entregou sua causa ao Senhor, o justo Juiz (Jr 11:20). Mesmo assim, questionou a morosidade da justiça divina: “Por que prospera o caminho dos perversos?” (Jr 12:1). Mais uma pergunta frequente na Bíblia! (Ver Sl 73). Antes de questionar, porém Jeremias confessou: “Justo és, Senhor”. Mostrando assim uma sabedoria sensata. Ele não estava reclamando, apenas queria aprender.
E Deus respondeu como Pastor do Seu “manso cordeiro” (Jr 11:19), com palavras de desafio, advertência e consolo.
a. O Desafio (Jr 12:5)
“Nada de autocomiseração, Jeremias! Tu não sabes do que és capaz!’ A ‘floresta jordânica’ era terra perigosa (Jr 50:44, mas a proteção de Deus é segura”.
b. A Advertência (Jr 12:6)
“Não confies nem nos teus irmãos (cf Mt 10:36) com suas palavras bonitas. Confia sim em Mim e na Minha palavra, nem sempre ‘mansa’, mas sempre fiel”.
c. O Consolo (Jr 12:7)
“Jeremias, também estou sofrendo; amo este povo, por isso tenho de discipliná-lo, e tu tens de lhe entregar a Minha palavra”.
3. Renovação da Chamada
(Jr 15:10-21)
Mais um grito de tristeza veio do profeta, mas ele conseguiu temperá-lo com um toque de humor (Jr 15:10). Logo veio uma promessa animadora do Senhor (Jr 15:11). E a pergunta seguinte (Jr 15:12) deve ter lembrado Jeremias da sua vocação inicial: “Eis que hoje te ponho por cidade fortificada, por coluna de ferro e por muros de bronze” (Jr 1:18). Mas a menção do “Norte” significa que o Senhor estava falando dos babilônicos (Jr 14:15), e a profecia seguinte (Jr 15:13-14) se dirigiu ao povo pecaminoso.
Jeremias se sentiu animado para continuar a conversa e abrir mais o coração diante do Senhor. Começou pedindo proteção: que a “longanimidade” divina para com seus perseguidores não servisse de ensejo para eles cumprirem seus planos de “arrebatar” ou silenciar o profeta (Jr 15:15). E seguiu lembrando as experiências com Deus (Jr 15:16-17). No versículo 16, a expressão “achadas as tuas palavras” pode referir-se à descoberta do livro da Lei que provocou as reformas do rei Josias (2Rs 22:8-11). Foram experiências de alegria (Jr 15:16) e de tristeza (Jr 15:17), mas em todas elas o Senhor é o centro, como o é em toda essa oração. Vejamos:
“Tu, ó Senhor, o sabes… que por amor de ti tenho sofrido afrontas” (Jr 15:15). “Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado” (Jr 15:16). “Oprimido por tua mão, eu me assentei solitário, pois já estou de posse das tuas ameaças” (Jr 15:17). Para melhor ou pior, ele pertencia a Deus. Como vimos no capítulo 16, na lição anterior, a vida solitária do profeta não se explicava por seu temperamento, mas por sua obediência à ordem do Senhor.
Surgiram as mesmas perguntas que já vimos em momentos anteriores. Mas desta vez, com mais angústia. “Por que” (Jr 15:15). Jeremias já havia perguntado sobre a dor do povo e a prosperidade alheia (Jr 8:22; 12:1). Agora é a sua própria vez. A oração centrada em Deus não nos proíbe de falar das necessidades. Deus quer que sejamos sinceros com Ele. A oração serve para expressar tanto a fé quanto a dor e também a dúvida. A outra pergunta é a mais angustiante de todas, exatamente porque está centrada novamente em Deus: “Serias tu para mim como ilusório ribeiro, como águas que enganam?” (Jr 15:18). As palavras podem ser de reclamação, de ira até, mas o conflito e a tensão vêm da proximidade de Deus.
A resposta de Deus combinou suavemente repreensão com afirmação. Ele usou duas vezes o mesmo verbo no original: “Se tu te arrependeres, eu te farei voltar” (Jr 15:19). É uma palavra que foi chave na pregação de Jeremias: “torna para mim, diz o Senhor” (Jr 3:1). “Volta, ó pérfida Israel, diz o Senhor” (Jr 3:12). “Se voltares, ó Israel, dia o Senhor, volta para mim” (Jr 4:1). O povo sempre resistia: “não quiseram voltar” (Jr 5:3; cf Jr 8:5). Como sacerdote, Jeremias sabia fazer “diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo” (Lv 10:10). Assim o profeta precisava praticar a verdade de Levítico, não no âmbito ritual, mas no próprio coração. Precisava reconhecer o que tinha feito de errado.
Segue-se a afirmação: “estarás diante de mim” (Jr 15:19), na posição de profeta verdadeiro, servo do Senhor, como foi o grande Elias (1Rs 17:1); “serás a minha boca” falando o que é certo. O verbo é repetido mais duas vezes no final do versículo: “eles se tornarão a ti, mas tu não passarás para o lado deles”. É como se Deus dissesse: “Não mude a mensagem para agradar aos ouvintes! Que eles mudem seus caminhos maus para ouvir você!”
Deus termina repetindo e reforçando a promessa que fez quando chamou Jeremias no início: compare as palavras do versículo 20 com Jeremias 1:18-19. O versículo 21 vai além, aplicando a promessa à situação atual do profeta.
II. Reação à Perseguição
1. Pedindo Salvação para Si
(Jr. 17:14-18)
O versículo 14 parece ser a resposta de Jeremias à palavra do Senhor em 15:19: “Se arrependeres, eu te farei voltar”. Era uma palavra que deixava o profeta com a “bola aos pés”. A decisão era de Jeremias. Mas ele entendeu que a iniciativa tinha de partir de Deus. Portanto, ele orou: “Cura-me, Senhor, e serei curado, salva-me” (Jr 17:14). E com essa oração ele experimentou a graça restauradora do Senhor: “serei curado… serei salvo… Tu és o meu louvor”.
E Jeremias reagiu à zombaria dos seus ouvintes (Jr 17:15) reafirmando sua integridade (Jr 17:16) e recordando mais uma vez sua vocação.
2. Pedindo Destruição dos Seus Perseguidores
(Jr. 18:18-23)
A hostilidade violenta da oração nos versículos 21-23 pode assustar-nos. Linguagem semelhante aparece em alguns salmos (cf Sl 109:6-20). Trata-se de uma linguagem poética, metafórica, exagerada, que não leva todos os detalhes ao pé da letra. É um clamor pela justiça de Deus, para que se manifeste de forma visível. Nas orações anteriores, vimos que Jeremias pediu a vingança do Senhor, sem entrar em maiores detalhes (Jr 11:20; 15:15; 17:18; 20:12).
É importante lembrar o que Cristo nos ensinou no NT: “amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5:44).
Conclusão
A última das “confissões de Jeremias” deixaremos para a próxima lição. Mas já vimos o suficiente para perceber a marca principal dessas orações. O profeta não esconde nada. Fala com Deus com sinceridade total, com franqueza ousada: “face a face, como qualquer fala a seu amigo” (Êx 33:11). Pela obra de Cristo, podemos ter acesso semelhante à presença de Deus. “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, aproximemo-nos” (Hb 10:19,22).
Fonte: Revista Vida Cristã – Escola Bíblica – www.editoracristaevangelica.com.br