19.08.2019
Pr. Glenn Thomas Every-Clayton
Texto Básico: Jeremias 20:7-18; 3:14-25
Texto Devocional: Esdras 9:6-15
Texto Chave: Jeremias 14:7: “Posto que as nossas maldades testificam contra nós, ó Senhor, age por amor do teu nome; porque as nossas rebeldias se multiplicam; contra ti pecamos.”
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Já estudamos sobre a vida de oração de Jeremias e as lutas espirituais que o levaram a buscar a face de Deus. Agora chegamos à última das “confissões de Jeremias” e veremos que o profeta intercedeu em favor do seu povo. Jeremias tinha dupla responsabilidade: profeta – falar ao povo por Deus e sacerdócio – fala a Deus pelo povo (cf. 1Sm 12:23).
I. Coração Sincero
(Jr 20:7-18)
A última “confissão de Jeremias” é a mais intensa. No início do capítulo 20, começaram as ameaças contra o profeta de Deus (Jr 20:1-2). O sofrimento corporal já despertava uma reação mais violenta. Sua luta em oração continuava centrada em Deus: “Persuadiste-me” (Jr 20:7). A mesma palavra é traduzida por “enganar” em 1Rs 22:20 e Ezequiel 14:9. Eis a dúvida mais profunda e mais angustiante do profeta: “será que eu também não passo de um falso profeta como tantos outros, ‘enganando e sendo enganado’ (2Tm 3:13)?” Muitos zombavam da palavra que ainda não se cumpria (Jr 20:8; cf Jr 17:15). Até os amigos íntimos achavam que Jeremias talvez estivesse enganado (Jr 20:10).
Mas as dúvidas se derretem no fogo da palavra autêntica do Senhor (Jr 20:9; cf Jr 23:29). Em Jeremias 20:11-13, o profeta vai subindo uma escada até a plataforma de louvor.
1. “O Senhor está comigo.” Nós podemos dizer o mesmo (Mt 28:20).
2. “Como um poderoso guerreiro.” Podemos contar com a força de Deus (Ef 6:10)
3. “Tropeçarão os meus perseguidores e não prevalecerão.” Podemos ter a mesma confiança da vitória (Rm 8:37).
4. “Tu, pois, ó Senhor dos Exércitos, que provas o justo e esquadrinhas os afetos e o coração.” Podemos ter a mesma certeza (Jo 21:17).
5. “Veja eu a tua vingança contra eles, pois te confiei a minha causa.” Devemos fazer o mesmo (Rm 12:19).
6. “Pois livrou a alma do necessitado das mãos dos malfeitores.” Podemos também celebrar a libertação, passada e futura (Rm 5:8).
Seria tão bom se o capítulo terminasse nesses versículos. Mas Jeremias precisava expor todo o sentimento de seu coração diante de Deus. Depois da vitória espiritual, veio a ressaca. Como foi com Jó – depois da vitória de Jó 2:10 vem Jó 3:1-13. Mais uma vez, é a linguagem extravagante da poesia, um grito de dor, Tanta dor, porém, não representava derrota espiritual. É a outra face da vitória. Outro exemplo está em Paulo – depois do triunfo de Romanos 8, vem Romanos 9:12: “tenho grande tristeza e incessante dor no coração.”
De qualquer forma as reclamações de Jeremias terminaram aqui. Ele ainda enfrentou perseguições piores e viu sua mensagem rejeitada, mesmo depois de cumprida a profecia. Mas seguiu firme na caminhada traçada para ele por Deus, sem hesitar, sem mais duvidar.
II. Oração Pelos Desviados
(Jr. 3:14-25)
Como orar por um povo pecaminoso? Vejamos o diálogo entre Deus e o povo, mediado pelo profeta. Deus apelou ao povo - “Convertei-vos, ó filhos rebeldes” (Jr 3:14), reforçando o apelo com promessas de um futuro glorioso (Jr 3:15-18). A base do apelo é o relacionamento que já existia entre o povo e Deus. Ele é Pai e Esposo (Jr 3:14). Mas o povo traiu esse relacionamento, como esposa e filho infiel (Jr 3:20), e ali Jeremias escutou Deus debatendo consigo mesmo: “Como te porei entre os filhos?” (Jr 3:19); como receber o rebelde dentro de casa outra vez?
O profeta entendeu que o caminho de volta para Deus incluía passar por um profundo arrependimento (Jr 3:21), e quando Deus repetiu Seu apelo, o profeta falou em nome do povo, numa oração de confissão de pecado (Jr 3:25). Jeremias orou por seu povo que estava desviado do caminho do Senhor.
III. Orar ou Não Orar?
(Jr. 1:7-12; 15:1)
Outra oração modelo de confissão se encontra em Jeremias 14:7-9, quando a terra toda sofria de uma seca prolongada. O profeta apelou ao Senhor, apesar do desmerecimento do povo (Jr 14:7; cf Sl 23:3; Ez 36:22-23). Expressou confiança em Deus (Jr 14:8), e terminou reafirmando os fortes laços de ligação entre o Senhor e Israel (Jr 14:9). Ao mesmo tempo, as perguntas angustiadas de Jeremias 14:8-9 revelam o coração do profeta envolvido no sofrimento do povo.
A oração foi bonita, sincera e teologicamente correta. E a resposta não demorou, mas foi negativa: “o Senhor… punirá o pecado” (Jr 14:10). E mais, Jeremias ficou proibido de fazer tais orações (Jr 14:11).
Como entender isso? Não foi a primeira vez que Jeremias recebeu tal ordem. Em 7:16 lemos: “Tu, pois, não intercedas por este povo, nem levantes por ele clamor ou oração, nem me importunes, porque eu não te ouvirei.” E a razão logo se explicou. Todo o povo estava mergulhado na idolatria (Jr 7:18), e o castigo seria tão geral como foi o pecado (Jr 7:20). Ainda em 11:14, Jeremias ouve Deus dizer: “Tu, pois, não ores por este povo, nem levantes por eles clamor nem oração; porque não os ouvirei quando eles clamarem a mim, por causa do seu mal.” E pela mesma razão, uma idolatria geral (Jr 11:12-13).
Uma coisa é certa. Jeremias não prestou muita atenção a essas proibições. Pela terceira vez, ele insistiu com a sua intercessão. E Deus foi taxativo: “Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, meu coração não se inclinaria para este povo” (Jr. 15:1).
É interessante observar que esses dois gigantes de intercessão, Moisés e Samuel, que obtiveram respostas dramáticas às suas orações, também receberam recusas definitivas da parte do Senhor (cf Dt 3:23-28; 1Sm 15:10-11, 35; 16:1). E não podemos deixar de recordar que no NT houve dois casos de orações repetidas que não foram atendidas (2Co 12:7-9; Mc 14:35-41). Nos dois casos a resposta que veio era algo maior e melhor do que foi pedido. E a Jeremias também foi dada uma resposta maior e melhor, nas visões de esperança que se encontram nos capítulos 30 a 33.
IV. Orando Pelo Mundo
(Jr. 29:7)
À vista das proibições de orar por “este povo” - expressão que já distancia Deus de Seu povo Israel – há um choque na ordem de Jeremias 29:7: “Procurai a paz da cidade… e orai por ela ao Senhor.” Que cidade? Babilônia! Da mesma forma, no NT o apóstolo Paulo diz: “exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessão, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade” (1Tm 2:1-2). Na ocasião, quem era o rei? Nero!
Qual a necessidade dessas orações? É simples! É que o povo de Deus está inserido no mundo, envolvido nas decisões dos políticos. “Porque na sua paz {de Babilônia} vós tereis paz” (Jr 29:7). “Para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (1Tm 2:2).
V. “Ore Por Nós!”
Na fase final da vida de Jeremias, aconteceu uma coisa estranha. O povo que tinha rejeitado e desprezado a mensagem do profeta lhe pediu oração! Eles não tinham como negar que Jeremias era homem de Deus e que a perseverança do testemunho do profeta acabou conquistando a consciência deles. Ninguém melhor que Jeremias para orar pela nação, assim pensavam. Mas já era tarde demais. Podemos diagnosticar isso com dois exemplos.
1. O Rei Zedequias
(Jr 37:1-10)
Primeiro foi a vez do rei Zedequias com o exército de Nabucodonosor cercando a cidade e tornando próxima a derrota final de Jerusalém. De repente houve um alívio, as tropas do inimigo se retiraram diante de uma ameaça do Egito (Jr 37:5). Zedequias continuou com sua impenitência (Jr 37:2). Achou que o recuo de Nabucodonosor era um sinal do favor de Deus e pediu ao profeta uma palavra do Senhor (Jr 37:3-7). Jeremias orou, e o Senhor falou a mesma mensagem de sempre, só que mais forte ainda (Jr 37:6-10).
2. Todo o Remanescente do Povo
(Jr 42:1-6)
Já analisamos esse capítulo na primeira lição e vimos como o povo continuou nos seus maus caminhos até a amargura final. Pediram, como Zedequias, uma palavra do Senhor (Jr 37:2-3), mas quando ela chegou, a desobediência foi completa. De fato, como Jeremias observou, teria sido melhor nem pedir oração (Jr 42:19-22)
Conclusão
Como oraremos então? O modelo supremo é do Senhor Jesus: “faça-se a tua vontade” (Mt 26:42). Convém lembrar que na oração não devemos tentar impor a nossa vontade sobre a de Deus, e sim procurar sintonizar a nossa vontade com a Dele. Como diz o apóstolo João: “E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1Jo 5:14). Então, precisamos aprender com Jeremias a escutar antes de falar. Ou seja, nosso primeiro pedido deve ser pela direção do Espírito Santo em toda a nossa oração. Assim Deus nos convida: “Invoca-me, e te responderei; anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes” (Jr 33:3). São “coisas” que Deus quer realizar por meio das nossas orações. “Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29:13).
Fonte: Revista Vida Cristã – Escola Bíblica – www.editoracristaevangelica.com.br