09.09.2019

Escravos e Negros

Drª Joyce Elizabeth W. Every-Clayton

 

 

Texto Básico: Jeremias 34:1-22; 37:1-38, 13, 39:11-18

 

Texto Devocional: Jeremias 38:6-13

 

Texto Chave: Jeremias 38:9: “Ó rei, senhor meu, agiram mal estes homens em tudo quanto fizeram a Jeremias”

 

Leia a Bíblia diariamente:

 

Dia	Texto
Segunda	Josué 2:1-15
Terça	2Samuel 15:13-23
Quarta	Mateus 27:11-24
Quinta	Jeremias 34:1-10
Sexta	Jeremias 34:11-22
Sábado	Jeremias 37:11-21
Domingo	Jeremias 38:1-13

 

 

O peso de ensino de Jeremias recaiu sobre as consequências inevitáveis dos pecados de ordem espiritual cometidos pelo povo de Deus. Em contraste com Amós 2:6-8 ou Miqueias 2:1-2, por exemplo, Jeremias não deu ênfase a pecados de ordem social. Ele insistiu em que Deus Se agrada de “misericórdia, juízo e justiça na terra” (Jr 9:24) e em que o ritual religioso jamais substituiu a obediência à lei de Deus (Jr 7:9-10). Mesmo assim, há dois textos que tocam em questões sociais.

 

 

I. O Susto de Zedequias

        (Jr 34:1-10)  

 

O fim de Judá se aproxima. Jerusalém estava sitiada (cf 2Rs 25:1-11), e Jeremias entregou mais uma mensagem de alerta ao Rei Zedequias. Foi uma mensagem diferente das anteriores, porque trazia detalhes da morte do próprio Zedequias (Jr 34:3-5). Haveria um jeito de o rei evitar tal castigo? Recordando a misericórdia de Deus para com os arrependidos: “Eis que estou forjando mal e formo um plano contra vós outros; convertei-vos, pois, agora, cada um do seu mau proceder, e emendai os vossos caminhos e as vossas ações” (Jr 18:11), Zedequias decidiu converter-se de suas maldades (Jr 18:8), e ordenou que todos os escravos fossem soltos (Jr 18:8-9). O povo de Deus obedeceu na hora. Tratava-se de uma lei dada por Deus a Seu povo no deserto do Sinais, séculos antes (Êx 21:2; Dt 15:12).

 

 

II. Um Povo que Brinca com Seu Semelhante e com Deus

        (Jr 34:11-22)  

 

Como bem escreveu o autor Eugene Peterson: “Algumas vezes, [Zedequias] … era acometido de ataques de consciência … e, por breve período de tempo, atentava à palavra profética. Entretanto, nada durava muito com Zedequias … Quando a pressão arrefecia, ele, gradualmente, voltava a seu estado inicial”. Foi o que aconteceu com os escravos.

 

É impressionante como o povo de Judá imitou seu líder instável: “Todos os príncipes e todo o povo que haviam entrado na aliança obedeceram, despedindo forro cada um o seu servo e cada um a sua serva, de maneira que já não os retiveram como escravos; obedeceram e os despediram. Mas depois se arrependeram, e fizeram voltar os servos e as servas que haviam despedido forros, e os sujeitaram por servos e por servas” (Jr 34:10-11). Que traição! Que crueldade! Mas a palavra de Jeremias ressaltou acima de tudo a desobediência e ingratidão a Deus (Jr 34:12-16). O povo fez algo bem mais sério do que maltratar seus semelhantes. Estava quebrando a “aliança” (Jr 34:18), aquele pacto solene feito entre o Senhor e Seu povo e que atingia todas as áreas da vida. Então Deus Se indignou e decidiu Ele mesmo “libertar”: “eu vos apregoo a liberdade, diz o Senhor, para a espada” (Jr 34:17).

 

 

III. Um Líder Que Não Sabe Liderar

        (Jr 37:1-38:6)   

 

Mesmo com os avisos solenes (Jr 34:4-5,21-22) recebidos, Zedequias permaneceu resistente: “Mas nem ele, nem os seus servos, nem o povo da terra deram ouvidos às palavras do Senhor que falou por intermédio de Jeremias, o profeta” (Jr 37:2). Ele continuou resistindo à palavra de Deus, mas desejava a bênção do Senhor, a ponto de pedir que Jeremias orasse por ele (Jr 37:3).

 

Quando Jerias com os príncipes jogaram Jeremias no cárcere (Jr 37:12-16), Zadequias mandou buscá-lo a fim de que o profeta lhe desse mais uma palavra da parte do Senhor (Jr 37:17), talvez até torcendo para que Jeremias mudasse a mensagem a fim de se livrar da prisão. Mas o profeta ratificou a palavra dura. “Então, ordenou o rei Zedequias que pusessem a Jeremias no átrio da guarda; e, cada dia, deram-lhe um pão da Rua dos Padeiros, até acabar-se todo pão da cidade” (Jr 37:21). Nem com isso alguns líderes se satisfizeram: “Morra este homem” (Jr 38:4). E “o lançaram na cisterna de Malquias, filho do rei, que estava no átrio da guarda; desceram a Jeremias com cordas. Na cisterna não havia água, senão lama; e Jeremias se atolou na lama” (Jr 38:6). Mais uma vez, boa parte da culpa recaiu sobre Zedequias, “uma pessoa fraca e insegura como uma massa de modelar que se deixava influenciar por qualquer um que falasse mais alto do que ele” (Peterson). Foi ele mesmo quem disse: “Eis que ele está nas vossas mãos; pois o rei nada pode contra vós outros” (Jr 38:5).

 

 

IV. Um Herói Verdadeiro

           Jr 38:7-13; 39:11-18)   

 

Entrou em cena um homem totalmente diferente, Ebede-Meleque, “o etíope, eunuco que estava na casa do rei” (Jr 38:7), isto é, um africano que trabalhava como funcionário público. Ele não era membro do povo de Deus, Nada tinha a ver com a sorte de Jeremias. Mas se indignou com a maldade e decidiu enfrentar seu chefe, o rei, pedindo, com ousadia e urgência, em favor do profeta injustiçado e faminto (Jr 38:9).

 

E lá foi o estrangeiro corajoso, simpático, sensível, Ebede-Meleque, organizar a operação de resgate (Jr 38:11-13). Um cenário extremamente desafiador para os preconceituosos. O rei do povo de Deus não fez nada, mas um pagão, gentio, agiu com honra. O grande homem de Deus estava lá embaixo, atolado na lama. O etíope estava lé em cima para socorrê-lo. O judeu dependeu do gentio. O gentio instruiu o judeu. Inversões dramáticas. Nada de exclusivismo religioso, nem de racismo.

 

Mas a história não terminou com a saída de Jeremias da lama do poço. Aliás, por falar em lama, que tal o recado dado ao rei em Jeremias 38:22: “Eis que todas as mulheres que ficaram na cada do rei de Judá serão levadas aos príncipes do rei da Babilônia, e elas mesmas dirão: Os teus bons amigos te enganaram e prevaleceram contra ti; mas, agora que se atolaram os teus pés na lama, voltaram atrás”. Ninguém apareceu para livrar Zedequias de seu “poço”. Pelo contrário, quando Jerusalém finalmente foi tomada, até o rei pagão invasor, Nabucodonosor, fez questão de cuidar bem do profeta (Jr 39:11-14). Após ter humilhado o rei vacilante, Nabucodonosor “vazou os olhos a Zedequias e o atuou com duas cadeias de bronze, para levar à Babilônia” (Jr 39:7).

 

Na hora da própria libertação, Jeremias se lembrou de seu libertador, Ebede-Meleque. Lembrou e pronunciou: “A ti, porém, eu livrarei naquele dia, diz o Senhor… certamente te salvarei, e não cairás à espada… porquanto confiaste em mim” (Jr 39:17-18).

 

 

V. Apenas Uma Mentirinha?

         (Jr 38:14-28)   

 

Vamos retornar ao recado dado ao rei em Jeremias 38:22 quando Zedequias estava na lama. Os versículos 14 a 28 relatam uma entrevista entre Zedequias e Jeremias. Evidentemente que o profeta estava com medo das consequências de dizer toda a verdade ao rei (Jr 38:14-16). Mas o profeta conseguiu adverti-lo (Jr 38:17-23): “tu não escaparás… por tua culpa esta cidade será queimada” (Jr 38:23). O rei, sentindo culpa, não quis que outros soubessem: “Ninguém saiba estas palavras” (Jr 38:24). Como se isso não bastasse, Zedequias obrigou Jeremias a prometer que nada revelara aos príncipes (Jr 38:25), mas que efetivamente mentiria a eles (Jr 38:26). Jeremias concordou e mentiu (Jr 38:27).

 

E agora? Podemos afirmar que Jeremias mentiu para proteger o próprio rei da possível crueldade dos conselheiros; ou que mentiu para proteger sua própria pele. O fato é que a Bíblia condena por princípios e preceitos a mentira (Ef 4:25; Êx 20:16; Cl 3:9-10; 1Jo 2:4).

 

Não dá para omitir o fato de que Jeremias “ficou no átrio da guarda” (Jr 38:28), mesmo tendo “mentido”. Ele fez o que o rei havia pedido, sim, mas Deus foi tão bondoso que “eles [os conselheiros] não lhe perguntaram mais nada, pois ninguém tinha ouvido a conversa com o rei” (Jr 38:27 NVI). Que alívio.

 

 

Conclusão

Na introdução desta lição, observamos como Jeremias toca em questões contemporâneas. Escravidão, racismo e mentira, sem dúvida, continuam sendo temas relevantes para o povo de Deus. Porém, esses capítulos insistem em que soluções para tais questões dramáticas são, acima de tudo, uma questão de caráter. “Aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando” (Tg 4:17). Zedequias foi omisso, líder de um povo vacilante e igualmente omisso. Ao mesmo tempo, o que outrora não era povo de Deus (1Pe 2:9-10), Ebede-Meleque, mostrou piedade, senso de justiça e caráter digno de honra.

 

 

 

 

Fonte: Revista Vida Cristã – Escola Bíblica – www.editoracristaevangelica.com.br