30.09.2019

Os Recabitas

Drª Joyce Elizabeth W. Every-Clayton

 

 

Texto Básico: Jeremias 35

 

Texto Devocional: Jeremias 35:1-19

 

Texto Chave: Mateus 25:21: “Muito bem, servo bom e fiel”

 

Leia a Bíblia diariamente:

 

Dia	Texto
Segunda	2Reis 10:1-16
Terça	Jeremias 35:1-11
Quarta	Jeremias 35:12-19
Quinta	Salmos 106:6-15
Sexta	Salmos 105:37-45
Sábado	2Tessalonisensses 3:6-16
Domingo	Salmos 119:113-120

 

 

Marca especial do livro do profeta Jeremias é o uso de boas ilustrações, desde a “panela de fogo” (Jr 1:13), até o cinto de linho enterrado à beira-rio (Jr 13:1-11). Por meio de potes quebrados (Jr 19:1-15), de cestos de figos (Jr 24:1-10) e de um jugo de madeira nas costas (Jr 27:1-7), pudemos estudar sobre a ação de Deus por intermédio do profeta no meio do povo. Mas, de todas as ilustrações, a mais memorável aparece no capítulo 35, que é o capítulo de referência desta lição.

 

 

I. Que Povo é Este?

 

O início de tudo se deu uns 200 anos antes dos dias de Jeremias, no reinado sangrento de Jeú, rei de Israel. Em 2Reis 9:10, lemos que Jeú matou muitas pessoas para ter o controle absoluto do reino do Norte, Ele mandou matar Jezabel (2Rs 9:30-37) e toda a casa de Acabe (2Rs 10:1-14). Enfim, Jeú queria exterminar todos aqueles que não adoravam ao Senhor, pois como ele mesmo disse, ele tinha “zelo para com o Senhor” (2Rs 10:16).

 

Numa dessas campanhas contra os adoradores de Baal, Jeú se encontrou com “Janadabe, filho de Recabe” (2Rs 10:15). Jonadabe, também extremamente zeloso, entrou com Jeú “na casa de Baal” (2Rs 10:23) e participou do extermínio dos adoradores de Baal (2Rs 10:24-28).

 

Pelo jeito, Jonadabe queria que sua fama de zeloso, de linha dura, fosse perpetuada entre os recabitas, seus descendentes, pois ele determinou que guardassem com rigor total algumas leis severas como: “Não beberemos vinho, porque Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos ordenou: Nunca jamais bebereis vinho, nem vós nem vossos filhos; não edificareis casa, não fareis sementeiras, não plantareis, nem possuireis vinha alguma; mas habitais em tendas todos os vossos dias” (Jr 35:6-7).

 

 

II. A Ordem de Jeremias para os Recabitas é Desobedecida

        (Jr 35:1-11)   

 

Como vimos em lições anteriores, durante longos anos, Jeremias pregou alertando o povo de Deus acerca das consequências do pecado da desobediência a Deus. O Senhor, por meio de Jeremias, apresentou maneiras diferentes, e novas, de explicar as coisas para que o povo entendesse. Inspirado pelo Senhor, o profeta já havia falado da vara de amendoeira, dos figos, e assim por diante, quando, um belo dia, os recabitas acamparam perto da cidade de Jerusalém. De repente, veio a ordem divina: “Vai à casa dos recabitas, fala com eles, leva-os à Casa do Senho, a uma das câmaras, e dá-lhes vinho a beber” (Jr 35:2). Jeremias nem pensou duas vezes. Instalou a turma toda num pátio interior do templo (Jr 35:3-4), um lugar frequentado por todos, especialmente pelos líderes religiosos do povo de Deus. Em vima da mesa estavam “taças cheias de vinho e copos” (Jr 35:5). E Jeremias ordenou: “Bebei vinho” (Jr 35:5), mas não adiantou nada. Aquele povo disciplinado, fiel às ordens de seu ancestral, não quis saber do vinho, nem cogitou a possibilidade de ser desobediente.

 

Ao mesmo tempo, é bom observar que Jeremias não diz que todos deviam ser como os recabitas, deixando de edificar casas (Jr 35:9) para habitar em tendas (Jr 35:10). Pelo contrário, conforme vimos, a exortação profética é que é preciso assumir a cidade (Jr 29:7) com todas suas alegrias e contradições.

 

 

 III. Jeremias usa os Recabitas como Exemplo de Obediência

         (Jr 35:12-19)   

A reação dos recabitas foi exatamente a que o profeta desejava, e ele usou o episódio para passar um sermão no povo de Judá. “Acaso, nunca aceitareis a minha advertência para obedecerdes às minhas palavras? - diz o Senhor” (Jr 35:13). E ali estavam os recabitas sentados, sérios, olhando para o vinho, de boca fechada, a ouvir Jeremias com suas comparações entre eles e o povo de Judá e de Jerusalém. O profeta recordou como Jonadabe havia ordenado certa vez a seus descendentes que não bebessem vinho, e eles obedeceram; enquanto isso, Deus havia dito muitas vezes ao Seu povo que não pecasse, e nada de eles obedecerem (Jr 35:14). Tal fidelidade de propósito da parte dos recabitas receberia uma recompensa da parte de Deus (Jr 35:19), enquanto a infidelidade de Judá traria “todo o mal que falei contra eles; pois lhes tenho falado, e não me obedeceram, clamei a eles, e não responderam” (Jr 35:17).

 

 

IV. Que Povo Fanático é Este?

 

Não sabemos se os recabitas ficaram intrigados, sem entender a aplicação feita por Jeremias, E nós? Como reagimos ao texto? Em lições anteriores, extraímos do comportamento de pessoas como Zedequias, Ebede-Meleque, povo de Judá, possíveis lições sobre nossa atitude. Falamos a respeito dos problemas decorrentes de um líder vacilante e omisso, da necessidade de ter coragem para ser diferente, da possibilidade de desenvolver um caráter sólido. Acima de tudo, falamos sobre a importância de o povo de Deus guardar a Aliança com seu Senhor.

 

Mas, e os recabitas com seu rigor moral, sua inflexibilidade? Seriam eles um exemplo bíblico de fanatismo religioso, de algo a ser evitado a todo custo? Sem dúvida a linha entre manter princípio a ser um exagerado é tênue.

 

Vale observar como até a inflexibilidade dos recabitas tinha limites: “Quando, porém, Nabucodonosor, rei da babilônia, subia a esta terra, dissemos: Vinde, e refugiemo-nos em Jerusalém, por causa do exército dos caldeus e dos sírios; e assim ficamos em Jerusalém” (Jr 35:11). A situação dramática exigiu uma mudança de mente. Princípios herdados nunca são iguais aos mandamentos de Deus. Assim é preciso aprender a distinguir entre o que não muda nunca e coisas que são perfeitamente negociáveis.

 

 

 V. Aprendendo com a Maneira de ser da Própria Bíblia

 

Antes de partirmos para uma reflexão sobre o que aprendemos dos recabitas, vamos parar um pouco e meditar por que o capítulo 35 está bem ao lado do capítulo 34. Logo de início, vamos entender que a resposta: “é que aconteceu depois”, não está correta! O episódio do capítulo 35 antecedeu o capítulo 34, que relata uma infidelidade cínica praticada pelo povo de Deus. Eles despediram seus escravos (Jr 34:10), uma atitude, sim, em harmonia com a lei de Deus (Êx 21:1-11). Mas voltaram atrás, “se arrependeram, e fizeram voltar os servos e as servas” (Jr 34:11). Foi infidelidade ao Senhor (Jr 34:13-16). e Deus não Se agradou (Jr 34:17).

 

O capítulo 35 é um contraste total! Ali, em vez de infidelidade cínica, há um povo de princípios que não se desvia do caminho estabelecido. Da maneira como os capítulos estão dispostos em nossa Bíblia, o cinismo e a infidelidade do primeiro grupo ficam em destaque por causa da fidelidade do segundo grupo aos princípios: a constância dos recabitas brilha como uma joia preciosa quando comparada à sujeira do primeiro grupo.

 

 

VI. Aprendendo com os Recabitas

 

Para começar, vale salientar que o texto bíblico não opina acerca das leis dos recabitas, se a vida de nômade é preferível à vida de moradia fixa, se é melhor cuidar de gado do que lavrar a terra. Além disso, a Bíblia sempre deixa claro que obedecer a Deus é infinitamente mais importante do que obedecer a um homem, por mais rigoroso e ortodoxo que este seja. Mesmo assim, há o que aprender com o episódio.

 

1. Tantas e tantas vezes nos dispomos a manter certos costumes somente por causa da tradição, como fizeram os recabitas. Quanto mais devíamos estar dispostos a guardar com rigor a lei eterna de nosso Deus!

 

2. É fácil esquecer os votos e as promessas feitos. Qualquer desculpa serve. Falta-nos a persistência dos recabitas.

 

3. Hoje é comum alguém se impressionar com a ordem de um “grande líder”. Mas o fato de um maravilhoso profeta como Jeremias, ou um pastor evangélico, estar exigindo algo, jamais quer dizer que temos que negar os nossos princípios e abandonar nossa palavra empenhada.

 

4. Com facilidade, somos induzidos a crer que a inflexibilidade, o rigor moral, é o pior de todos os pecados. Hoje, a moda é insistir que precisamos ter “jogo de cintura” para entender que os tempos são outros, que não é possível levar a vida do jeito antigo e seguir padrões de comportamento tradicionais. Será?

 

5. Os recabitas sabiam viver como grupo coeso, possuidor de uma identidade especial que os distinguia de todos os demais. Enquanto isso, muitos crentes parecem não ter noção do que é solidariedade e ação conjunta.

 

 

Conclusão

As lições que os recabitas ensinam se resumem em duas palavras: obediência e disciplina. Deus ainda deseja que as mesmas qualidades caracterizem toda a maneira de ser de Seu povo. O apóstolo Paulo se alegrou com “a boa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo” dos colossenses (Cl 2:5); exortou os filipenses com base em “como sempre obedecestes” (Fp 2:12), e ordenou aos coríntios: “permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos” (1Co 16:13).

 

 

 

 

 Fonte: Revista Vida Cristã – Escola Bíblica – www.editoracristaevangelica.com.br